"Uma pessoa é única ao estender a
mão,
e ao recolhê-la inesperadamente se torna mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes."
(William Shakespeare)
Em um
intervalo de duas semanas assistimos a três eventos trágicos que ceifaram
vidas: a garotinha atingida por um jet sky, a adolescente vitimada por um
brinquedo em um parque de diversões e a ciclista atropelada por um ônibus.
Embora eventos distintos, guardam correlações que merecem reflexão.
No caso da pequena Grazielly Lames, que pela primeira vez em seus tenros três
anos de vida avistava o mar e pisava a areia da praia, chama-nos mais a atenção
não o fato de o menor de 13 anos estar ou não conduzindo o veículo na ocasião,
mas sim de ter fugido na companhia de sua mãe em um helicóptero, enquanto a
criança aguardava 40 minutos por socorro. O egoísmo latente, a preocupação
exclusiva com os próprios interesses e a negligência diante da responsabilidade
pelo ato impediram que o mesmo helicóptero prestasse pronto atendimento à
menina.
No evento do Hopi Hari, causa-nos indignação saber que o assento que vitimou
Gabriela Nichimura estava inadequado para uso havia dez anos, sem que qualquer
providência tivesse sido tomada. Porém, mais do que a omissão da empresa, a
falta de liderança e comando, e o flagrante desrespeito às normas mínimas de
segurança, foi repugnante ver o parque continuar suas atividades naquele dia
fatídico e ainda abrir suas portas no dia seguinte como se tudo estivesse
dentro da mais absoluta normalidade.
Por fim, a bióloga e pesquisadora Juliana Dias, que fazia da bicicleta seu meio
de transporte, obedecendo às normas, à sinalização e portando os equipamentos
de proteção devidos, sucumbiu após ser fechada por outro veículo que também se
evadiu do local sem prestar socorro. Vítima da guerra pelo espaço urbano em uma
cidade desestruturada que não consegue conferir mobilidade aos seus cidadãos.
Três eventos, três vidas que se foram prematuramente. Indícios de uma sociedade
fragmentada, individualista e em franco processo de apodrecimento. Vivemos em
um mundo com sete bilhões de pessoas, com acesso aos mais diversos recursos e à
comunicação instantânea, mas paradoxalmente estamos cada vez mais isolados,
encasulados, urgentes e inertes.
Isso me faz lembrar o planeta pós-apocalíptico retratado pelo diretor
australiano George Miller em sua trilogia "Mad Max", que alçou o ator Mel
Gibson ao estrelato a partir de 1979. Mas aquele era um mundo de escassez, de
luta pela sobrevivência e não um mundo de abundância como o que temos hoje.
É mais do que urgente resgatarmos alguns valores em nossa sociedade. Pais que
não dialogam com filhos, vizinhos que não se conversam, colegas de trabalho que
não compartilham experiências e preferem viver entrincheirados, evitando
expor-se, ficando à espreita por uma oportunidade para dar o bote e subir um
degrau a mais mesmo que em detrimento do outro.
Há uma atitude moral que precisa ser praticada, difundida e valorizada. Ela
atende pelo nome de altruísmo.
Por Tom Coelho