Pesquisa realizada pela Interscience e
apresentada durante o 1o. Congresso Brasileiro de Pesquisa (março
2003) nos mostra que o brasileiro tem valores fortes que nem sempre
compreendemos.
O QUE A POPULAÇÃO MAIS VALORIZA ?
78% - Honestidade
77% - Verdade
72% - Confiança
72% - Respeito ao Outro
70% - Solidariedade
68% - Diálogo
66% - Empresas Éticas e Honestas
65% - Bem-estar, saúde física e mental
Será realmente verdade que o brasileiro
valoriza honestidade, verdade, confiança, respeito ao outro, limpeza
em todos os lugares, por exemplo?
Como antropólogo tenho sido chamado a dar uma
"explicação" para esse fenômeno. Os valores revelados pela pesquisa não
condizem com a realidade percebida por nós no cotidiano. Por quê? Estará a
pesquisa errada?
Na minha opinião a pesquisa está corretíssima!
A explicação é ao mesmo tempo simples e complexa e
exige um pouco de reflexão sobre o Brasil e a cultura brasileira.
É preciso que saibamos que nós, brasileiros, não
temos os quatro séculos de tradição escrita de Gutenberg, o inventor da
imprensa no século XV. O brasileiro - eu sempre tentei explicar isso a alunos e
clientes - é oral e auditivo. Sem a tradição escrita que a Europa e
por história de colonização, os Estados Unidos possuem, nos mantivemos
"tribais" (no sentido de uma civilização oral e não visual). Mário de Andrade
dizia que "o escritor brasileiro fala com a pena na mão".
As civilizações letradas pela imprensa de Gutenberg
criaram o "indivíduo" e o individualismo como valor. É preciso lembrar que
quando as palavras são escritas elas se tornam parte do mundo visual, estático.
A palavra oral é sempre dirigida ao "outro". Assim, para ler eu tenho que me
isolar. Para falar e ouvir, tenho que me "reunir" com alguém.
Assim, nas sociedades visuais,
o indivíduo tem força perante o grupo. Nas sociedades orais e
auditivas a força do grupo sobre o indivíduo é tão forte que podemos
classificá-la, sem exagero, de quase insuperável. Assim a força do grupo
sufoca os valores individuais no Brasil.
E assim, temos muita dificuldade em emitir
comportamentos individuais "certos".
Quem busca fazer as coisas de forma certa, correta,
ética, é logo acusado de "certinho" ou "certinha" e
ridicularizado pelo grupo.
Portanto, os valores individuais pesquisados são
mesmo os revelados pela pesquisa. Por isso ficamos indignados com a sujeira e
quando vemos um lugar limpo e bem cuidado dizemos "Que coisa
linda! Nem parece o Brasil!"
"Eu não jogo papel no lixo porque ninguém joga
papel no lixo! Quando todo mundo jogar papel no lixo eu também jogarei papel no
lixo. Eu não jogo porque ninguém joga e eu não quero dar uma de herói e
babaca...", etc, etc.
E com esse impedimento de manifestar seus valores
individuais, o brasileiro é complacente com o erro, com a desídia
para não ofender o grupo. E essa complacência reforça nossos comportamentos
contrários a nossos valores individuais.
O que fazer?
Minha sugestão é a de que passemos a criar, em
nossas famílias, em nossas escolas, em nossas empresas, ambientes que
permitam a manifestação dos nossos valores individuais.
Para isso temos que punir a impunidade. Valorizar o
valor. Dar crédito aos críveis. Referendar o certo e repreender severamente o
erro. É preciso dar ao brasileiro o direito de ser "certo" ou "certa". Eis aí
uma tarefa para cada um de nós - pais, professores, empresários, políticos,
líderes em geral.
Acredite: os valores do homem brasileiro são os
revelados pela pesquisa. Nossa tarefa como indivíduos, como povo e como nação é
a de permitir que eles sejam manifestos sem constrangimento.
E aí teremos o País que tanto
sonhamos. E aí seremos felizes e orgulhosos do Brasil.
Pense nisso!
Por Luiz Marins