Na ânsia de abrir o próprio negócio, muitos empreendedores esquecem que o
conhecimento em gestão e em aspectos contábeis e fiscais é fundamental para
manter a empresa viva
Alguns empreendedores são movidos pelo sonho de trabalhar sem
subordinação, sem horário definido, com renda maior e, ainda, fazer o que amam.
Outros tiveram na abertura de um negócio próprio a maneira de obter uma fonte
de renda depois de uma demissão inesperada e da dificuldade de se recolocar no
mercado com a economia em crise. Independentemente do motivo que leva uma
pessoa a abrir uma empresa, o fato é que empreender exige cuidados especiais
que nem sempre são percebidos no primeiro momento pelos novos empresários.
Para o administrador e sócio da consultoria Blue Numbers, Márcio
Iavelberg, é preciso considerar que, como o empreendedorismo serve, muitas
vezes, para tirar pessoas do desemprego ou subemprego, nem sempre o empresário
tem vontade ou condições de conhecer mais sobre gestão e administração, o que é
imprescindível para o seu negócio dar certo. "Muitos empreendedores sequer têm
consciência do que precisam conhecer sobre gestão empresarial e acham que têm
coragem suficiente pra enfrentar qualquer desafio. Entretanto, empreender vai
além da coragem, também é uma questão de conhecimento. O erro começa já na
falta de temas de empreendedorismo nas escolas e faculdades. As pessoas entram
no mercado sem o mínimo conhecimento para tocarem seus negócios", argumenta.
Por isso, de acordo com o consultor, o ideal é que o empreendedor só
abra um negócio quando adquirir todos os conhecimentos técnicos necessários, o
que implica ter mapeado a concorrência e feito um bom plano de negócios,
levando em conta a necessidade do capital que precisará investir. Outro aspecto
essencial é saber o ponto de equilíbrio do empreendimento e ter as ferramentas
básicas de gestão financeira (Demonstração de Resultados, Fluxo de Caixa,
Precificação). "Conversar com o contador também é muito importante para
conhecer a carga tributária dos seus produtos e serviços", alerta.
O professor de empreendedorismo e inovação do IBMEC/MG, João Bonomo,
concorda que a falta de conhecimentos específicos para a gestão de empresas
pode fazer o sonho naufragar ao primeiro iceberg encontrado. "Estudos e
pesquisas mostram que a maior parte dos empreendimentos fecha suas portas por
incapacidade gerencial, e não por causa de elementos externos inerentes ao
ambiente empresarial. Execução gerencial é tudo que os gestores precisam saber
para colocar em ação as suas decisões com relação ao negócio. Conhecer as
metodologias e as respectivas aplicações das práticas gerenciais torna-se uma
tarefa importante para a manutenção do negócio".
Além das questões contábeis e legislativas, um fator que merece
atenção é o gerenciamento de equipes de trabalho, algo que, na opinião de
Bonomo, é sempre um gargalo na gestão de empreendimentos. "Se, por um lado, há
uma grande capacidade de execução por parte da empresa, isso se deve
inequivocamente a um bom gerenciamento de uma equipe. Mas isso nem sempre é
fácil de ser feito, descrito e recomendado para os gestores.
Equipes podem ser complementares e até mesmo multifuncionais,
contudo não é a especialidade de uma equipe que faz com que os resultados
possam ser obtidos. A constituição e a manutenção de um clima de trabalho
altamente cooperativo e colaborativo deve ser uma das condições mínimas para
que os resultados possam ser obtidos", explica.
Por isso, o professor destaca que um dos maiores desafios dos
empreendedores é a formação de equipes que consigam trabalhar de forma
complementar em torno de objetivos estabelecidos, de maneira que cada um possa
fornecer as suas potencialidades e mitigar as suas fraquezas. "Os gestores devem
observar atentamente quais são os riscos e os valores mais importantes da
equipe que irá desenvolver certas ações, no sentido de desenvolver e acompanhar
processos que catalisem as virtudes dos membros da equipe e assim consigam
chegar aos objetivos pretendidos sem, necessariamente, ter de privilegiar
certos membros em detrimento de um bem maior, que será o resultado que espera
obter".
Fonte: Contas em Revista