Todos os
anos a consultoria britânica Wine Intelligence divulga as suas previsões para o
mercado global do vinho. Da última vez, algumas das hipóteses da empresa para o
ano de 2018 foram certeiras: as mudanças climáticas trouxeram desafios
inesperados para algumas regiões produtoras; vinhos orgânicos e sustentáveis
ganharam relevância entre os consumidores; e os espumantes continuaram a
crescer globalmente impulsionados por Brasil, China e Canadá.
Neste
artigo, o Blog Winext (https://www.wine-xt.com/pt-br/blog/) traz as
cinco previsões da Wine Intelligence para o mercado de vinho em 2019 e faz uma
avaliação sobre as perspectivas destas tendências no mercado brasileiro.
Confira abaixo!
1. Consumo de álcool continuará a cair nos mercados desenvolvidos
Em
países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Alemanha, mais
consumidores estão adotando um estilo de vida saudável, exercitando-se com mais
frequência e buscando uma alimentação equilibrada. Nesse contexto, bebidas de
baixo teor alcoólico e sem álcool estão ganhando competitividade diante das
opções tradicionais. Nesses mercados de vinho, consumidores menores de 35 anos
já bebem com menos frequência e mais moderação do que gerações anteriores e, a
partir de 2019, a Wine Intelligence prevê que as faixas de 40 e 50 anos também
entrarão nessa onda.
No
Brasil, também existe um movimento crescente de consciência sobre o consumo
moderado de álcool. No entanto, nosso mercado de vinho ainda é emergente e
conta com muito espaço para crescimento entre novos consumidores antes do
decréscimo de consumo observado nos mercados mais maduros. O caso dos jovens é
exemplar: enquanto 20% da população brasileira tem entre 18 e 24 anos, apenas
16% dos consumidores regulares de vinho pertencem a esta faixa etária, indício
de que há espaço para a popularização da bebida entre o público da chamada
geração Z.
2. Interesse sobre conhecimentos técnicos do vinho deve ser cada vez
menor
Nos
últimos anos, observamos uma tendência interessante e contraintuitiva: mais
consumidores ao redor do mundo afirmam interessar-se pelo vinho; ao mesmo
tempo, o conhecimento geral sobre a bebida - como as variedades de uvas,
estilos, regiões produtoras, etc. - encontra-se em declínio. Em outras
palavras, enquanto no passado o conhecimento sobre vinhos estava fortemente
relacionado com procura e disposição para gastar, veremos agora a emergência de
um público interessado, que gasta muito, mas quer saber pouco sobre a bebida.
A Wine
Intelligence sugere duas explicações para este fenômeno: por um lado, as
pessoas não precisam mais se dar ao trabalho de memorizar todas essas
informações, já que podem acessá-las rapidamente em seus smartphones; por
outro, o aumento da complexidade de categorias concorrentes - como cerveja
artesanal, gim e whisky - e o crescente volume de informações no cotidiano
competem pela atenção do público e deixam menos espaço para o aprendizado de
vinhos. Todos esses fatores crescerão em importância a partir de 2019.
Esta é
sem dúvida uma tendência universal, e o mesmo deve ser observado no Brasil. Há,
no entanto, um grande porém: de forma geral, a nossa indústria persiste na
contramão desta tendência e ainda trata o vinho como um produto elitizado e de
alta complexidade, o que provavelmente não mudará em um futuro próximo. Aos
players que entendem a necessidade de popularizar a bebida caberá a missão de
quebrar com este pacto. Como afirmou a sommelière Jessica Marinzeck em
entrevista recente ao blog, o vinho é por vezes complicado sim, mas é possível
combater o esnobismo.
3. Vinhos veganos se tornarão uma tendência nos grandes mercados
Segundo
estudo da Wine Intelligence, a maioria dos veganos acredita que o vinho que
consomem não recebe nenhuma substância animal. Mas não é bem assim: na maior
parte dos casos, a produção do vinho utiliza agentes derivados de proteína
animal e de peixe para clarificar a bebida antes do engarrafamento. Nenhuma
dessas substâncias estarão presentes no produto final, mas o seu uso torna o vinho
não-vegano.
Outros
agentes inorgânicos, como o carvão, podem fazer o mesmo trabalho - é
simplesmente uma escolha do enólogo, e é apenas uma questão de tempo até que
essas informações se propaguem entre os veganos pelas mídias sociais. Além
disso, nas principais cidades dos mercados desenvolvidos, os consumidores já
contam com uma série de listas de vinhos veganos para guiar as suas escolhas,
recurso que certamente se espalhará.
No caso
do Brasil, arriscamos dizer que o vinho vegano ainda não será tendência em
2019. Além de termos uma legislação confusa e processos de certificação
onerosos, nosso mercado ainda não faz um bom trabalho de comunicação sobre a
categoria dos vinhos alternativos - os chamados "SOLA", que incluem, além dos
veganos, os estilos sustentáveis, orgânicos e de baixo teor alcoólico, entre
outros. Para saber mais sobre as perspectivas de mercado dos SOLA no Brasil e
no mundo, não deixe de ler a série de artigos que publicamos no assunto.
4. Embalagens alternativas ganharão ainda mais espaço no mercado
Esta é
uma tendência que a Wine Intelligence já havia destacado no início de 2018 e
que segue cada vez mais promissora para 2019. As embalagens para vinho pouco
mudaram nos últimos séculos, mas o mesmo não pode ser dito sobre os nossos
hábitos de consumo. As tradicionais garrafas de vidro vedadas com rolha de
cortiça correm o risco de se tornarem inadequadas: são pesadas, frágeis e não
funcionam tão bem em um mundo de consumo imediato e portátil.
Em
reação às novas demandas do consumidor, um volume crescente de vinhos da
categoria premium são oferecidos em caixa (ou bag-in-box), que podem ter 1.5, 3
ou ainda 5 litros. Em paralelo, estabelecimentos em toda a Europa já
comercializam vinhos tranquilos e espumantes em taça. Vimos surgir vinhos em
bolsas, latas, copos, frascos e até potes - alguns destes pequenos o suficiente
para caber numa caixa de correio. A tecnologia também segue a tendência, e os
sistemas Enomatics e Coravin já permitem servir de pequenas quantidades até
taças generosas dos vinhos mais caros, inclusive os vedados com tampa de rosca.
No caso
brasileiro, uma previsão que vale a pena apostar é no crescimento dos vinhos em
lata e nos formatos menores em geral, como meias garrafas, garrafinhas de 187
ml, etc.
5. Marcas de vinhos com estratégias sustentadas de investimento
prosperarão às custas de competidores de segundo nível
Se há
uma lição a ser tirada do relatório Brand Power Index, divulgado no início de
2018 pela Wine Intelligence, é que as marcas e o branding são fundamentais na
nossa categoria. O mundo dos vinhos pode não ser tão simples como o de outros
produtos alimentícios, mas as regras básicas sobre comportamento do consumidor
e relacionamento de marca seguem válidas.
Na
verdade, elas são ainda mais importantes, já que a marca é uma maneira de
simplificar a tomada de decisões complexas. A "marca" no rótulo pode até
incluir informações descritivas - como castas e regiões -, mas o que interessa
cada vez mais é oferecer sinais visuais que gerem confiança, reconhecimento e
sejam agradáveis aos olhos do consumidor.
Nos
últimos três anos, vimos grandes marcas, com investimentos significativos e
sustentados em marketing, crescerem e se consolidarem no mercado. Ao mesmo
tempo, vinícolas e negociantes de nível intermediário que não contam com essa
estratégia estão retrocedendo em quesitos importantes como reconhecimento,
consideração e afinidade. Parte da explicação pode estar no que já mencionamos
acima, na previsão número 2; outra pode ser a crescente tendência entre os
varejistas de ver todas as marcas, exceto as mais populares, como
substituíveis.
Apesar
de ainda não existir um levantamento preciso, estimamos (muito por cima) que
haja no Brasil entre 45 e 50 mil rótulos diferentes disponíveis ao consumidor.
Cada vez mais, destacar-se neste universo exigirá esforços consistentes na área
de branding e marketing das empresas do setor vitivinícola. Para saber mais
sobre o assunto, não deixe de conferir os nossos artigos sobre os dez erros de
marketing mais comuns das vinícolas e sobre o que as marcas de sucesso têm em
comum.
Autor: Rodrigo
Lanari / Executivo na área vinícola, proprietário da Winext
Fonte: "5 previsões para o
mercado de vinho em 2019" https://www.wine-xt.com/pt-br/blog/2019/1/14/5-previsoes-para-o-mercado-de-vinho-brasil-em-2019