Há
um tempo atrás tive o privilégio de participar de uma viagem missionária e
humanitária para a África. Fomos em Guiné-Bissau, na época, o quinto país
mais pobre do mundo. Lá, é comum grande parte da população ter somente uma
refeição por dia.
Entre
as nossas diversas ações, tínhamos o atendimento à saúde. Na nossa equipe
tínhamos médico, enfermeiro e fisioterapeuta. Bem, e eu como contador,
administrador e professor, nessa ação, o que faria? Em outras ações participei
da capacitação de professores de uma escola de ensino fundamental e em outra de
ensino técnico. Ao total, capacitamos mais de 80 professores. Porém, quando se
tratava do atendimento na área da saúde, como eram muitas pessoas a serem
atendidas (foram mais de 400 atendimentos médicos naqueles dias), organizei uma
espécie de "linha de produção". A pessoa chegava e era feito uma pequena "ficha
cadastral" com nome, idade e outros dados importantes para o seu atendimento.
Na sequência passava ao lado para alguém que o pesava e colocava a informação
do peso na sua ficha; no próximo era medida a sua pressão arterial com a
respectiva anotação na ficha e depois o enfermeiro colhia o sangue para o teste
de glicose, com as respectivas anotações. Quando se tratava de um curativo ou
algum procedimento simples, o enfermeiro realizava o atendimento e estava
concluso. Nos demais casos, passava-se para o médico, que de posse da ficha,
realizava a consulta; depois, distribuíamos os medicamentos gratuitamente.
Enquanto
eu supervisionava toda essa "linha de produção" algo que me "cortou o coração":
ficar sem se alimentar.
O
ideal para se colher o sangue e medir a glicose é em jejum, porém como
estávamos somente naquele dia naquele bairro ou localidade, tínhamos que colher
o sangue naquele momento e depois o médico deveria tentar ajustar os níveis de
colesterol caso a pessoa já tivesse se alimentado. Neste sentido, um certo dia,
já passando das 16 horas, observei que o enfermeiro perguntava:
-
Você já se alimentou hoje?
Infelizmente
a grande maioria respondia:
-
Eu ainda não comi nada, hoje.
Essa
resposta me deixava "engasgado". Cheguei a pensar:
-
Mas, por que não comeu pela manhã? Ficam até essa hora sem comer?
Depois, fui entender que dos males eles tinham escolhido o menor. Pior que
passar o dia com fome era deitar com fome.
Portanto, deslocavam a única refeição do dia para o final da tarde. Então,
dormiriam melhor, sem fome.
Mesmo com esse quadro triste e comparando com a nossa abundância de alimentos
no Brasil, onde quase todos se alimentam três, quatro ou cinco vezes por dia,
entendo que podemos aprender alguma lição com esta cena. Ou seja, ao decidirmos
temos que levantar as diversas hipóteses (eles poderiam comer a qualquer hora
do dia, por exemplo: as 8h, 12h, 16h,20h,23h, etc.). Mas, optaram, não pela
melhor, a mais benéfica, a mais vantajosa; mas, pela menos pior (o horário que
sofreriam menos com a fome).
No nosso dia-a-dia, nem sempre temos diversas opções que sejam benéficas e
vantajosas. Às vezes "o céu está escuro", estamos no meio de "chuvas e
trovoadas". Então, temos que optar é pela hipótese menos pior.
Porém, se o céu está azul ou escuro, em qualquer situação, para fazermos a
melhor escolha (ou a menos pior), necessariamente temos que levantar todas as
hipóteses. Ver os "prós e contras" de cada alternativa. E, após a avaliação,
escolher a melhor entre elas; ou como na situação da cena, a alternativa menos
pior.
Marcone Hahan de Souza
Administrador e
Contador - Professor Universitário
Sócio da M&M
Assessoria Contábil