Institucional Consultoria Eletrônica

Aprendendo com a fome


Publicada em 16/04/2019 às 10:00h 

Há um tempo atrás tive o privilégio de participar de uma viagem missionária e humanitária para a África.  Fomos em Guiné-Bissau, na época, o quinto país mais pobre do mundo. Lá, é comum grande parte da população ter somente uma refeição por dia.

Entre as nossas diversas ações, tínhamos o atendimento à saúde. Na nossa equipe tínhamos médico, enfermeiro e fisioterapeuta. Bem, e eu como contador, administrador e professor, nessa ação, o que faria? Em outras ações participei da capacitação de professores de uma escola de ensino fundamental e em outra de ensino técnico. Ao total, capacitamos mais de 80 professores. Porém, quando se tratava do atendimento na área da saúde, como eram muitas pessoas a serem atendidas (foram mais de 400 atendimentos médicos naqueles dias), organizei uma espécie de "linha de produção". A pessoa chegava e era feito uma pequena "ficha cadastral" com nome, idade e outros dados importantes para o seu atendimento. Na sequência passava ao lado para alguém que o pesava e colocava a informação do peso na sua ficha; no próximo era medida a sua pressão arterial com a respectiva anotação na ficha e depois o enfermeiro colhia o sangue para o teste de glicose, com as respectivas anotações. Quando se tratava de um curativo ou algum procedimento simples, o enfermeiro realizava o atendimento e estava concluso. Nos demais casos, passava-se para o médico, que de posse da ficha, realizava a consulta; depois, distribuíamos os medicamentos gratuitamente.

Enquanto eu supervisionava toda essa "linha de produção" algo que me "cortou o coração": ficar sem se alimentar.

O ideal para se colher o sangue e medir a glicose é em jejum, porém como estávamos somente naquele dia naquele bairro ou localidade, tínhamos que colher o sangue naquele momento e depois o médico deveria tentar ajustar os níveis de colesterol caso a pessoa já tivesse se alimentado. Neste sentido, um certo dia, já passando das 16 horas, observei que o enfermeiro perguntava:

- Você já se alimentou hoje?

Infelizmente a grande maioria respondia:

- Eu ainda não comi nada, hoje.

Essa resposta me deixava "engasgado". Cheguei a pensar:

- Mas, por que não comeu pela manhã? Ficam até essa hora sem comer?

Depois, fui entender que dos males eles tinham escolhido o menor. Pior que passar o dia com fome era deitar com fome.

Portanto, deslocavam a única refeição do dia para o final da tarde. Então, dormiriam melhor, sem fome.

Mesmo com esse quadro triste e comparando com a nossa abundância de alimentos no Brasil, onde quase todos se alimentam três, quatro ou cinco vezes por dia, entendo que podemos aprender alguma lição com esta cena. Ou seja, ao decidirmos temos que levantar as diversas hipóteses (eles poderiam comer a qualquer hora do dia, por exemplo: as 8h, 12h, 16h,20h,23h, etc.). Mas, optaram, não pela melhor, a mais benéfica, a mais vantajosa; mas, pela menos pior (o horário que sofreriam menos com a fome).

No nosso dia-a-dia, nem sempre temos diversas opções que sejam benéficas e vantajosas. Às vezes "o céu está escuro", estamos no meio de "chuvas e trovoadas". Então, temos que optar é pela hipótese menos pior.

Porém, se o céu está azul ou escuro, em qualquer situação, para fazermos a melhor escolha (ou a menos pior), necessariamente temos que levantar todas as hipóteses. Ver os "prós e contras" de cada alternativa. E, após a avaliação, escolher a melhor entre elas; ou como na situação da cena, a alternativa menos pior.


Marcone Hahan de Souza

Administrador e Contador - Professor Universitário

Sócio da M&M Assessoria Contábil        






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Marcone Hahan de Souza

Administrador e Contador. Sócio da M&M Assessoria Contábil.



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