"As ilusões perdidas são verdades encontradas."(Multatuli)
A notícia
chega por e-mail e com caráter de comunicado. Uma entidade supostamente sem
fins lucrativos, da qual você nunca ouviu falar, informa que sua empresa foi
laureada com um prêmio de excelência.
Fruto de
pesquisa realizada junto a pessoas desconhecidas, com critérios igualmente
ignorados, sua companhia recebe o título de "Destaque do ano", ou algo
parecido, o que lhe conferirá um interessante diferencial competitivo.
Todavia,
para receber as honras, será necessário contribuir "com uma pequena quantia em
dinheiro" destinada à organização da festa de premiação, na qual representantes
de empresas de todo o país, dos mais variados segmentos da Economia, receberão
uma placa comemorativa, alguns flashs, matéria paga em uma revista de qualidade
editorial duvidosa e um belo coquetel. Sem o pagamento da cota determinada, a
distinção é transferida para seu concorrente direto.
Prêmios e
pesquisas de fachada são comuns. Há empresas constituídas apenas com o
propósito de auferir lucro mediante a realização de investigações que
proporcionam resultados superficiais a partir de metodologia discutível,
criando prêmios e editando revistas para tornar pública uma sucessão de
mentiras. E, não raro, são patrocinadas por empresários inescrupulosos,
dispostos a satisfazerem suas vaidades pessoais e corporativas.
Nesse
contexto, o executivo desavisado é alvo fácil, enaltecido pela força da
comunicação, do marketing eficiente que respalda estas ações, estimulando-o a
alimentar o sistema na expectativa de elevar a marca da companhia que
representa. Não percebe que, ao fazer isso, age como corruptível, legitimando a
ação do corruptor. Assim, coloca em risco sua imagem e de sua marca, associadas
que ficam à ilicitude do processo. O véu pode cair quando menos se espera,
deixando nu o rei. Diga-me com quem andas e eu te direi quem és.
Decerto que
temos instituições que realizam pesquisas idôneas, pautadas por métodos
estatisticamente adequados, e empresas que promovem concursos reconhecidos como
dignos e respeitáveis. Mas aos olhos do consumidor, é tarefa árdua separar o
joio do trigo, distinguindo fato de ilusão.
Analogamente, vejo pessoas que investem tempo e recursos em
busca de exposição na mídia impressa ou na televisão apenas para aplacar suas
vaidades. Uma batalha por uma fração de segundos na telinha ou uma
imagem de poucos centímetros, perdida em meio a uma única página de centenas de
publicações do mercado. Buscam os
famigerados quinze minutos de notoriedade alardeados por Andy Warhol, mas
costumam nem chegar perto disso.
O escritor
espanhol Salustiano dizia que "todo homem é o arquiteto de sua própria
fortuna". As ilusões vêm da imaginação, as verdades dos fatos, e os erros de
nós mesmos.
Por Tom Coelho