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A reinvenção do mercado de eventos em meio ao coronavírus


Publicada em 13/04/2020 às 14:00h 


Feiras, palestras e workshops precisam encontrar novas maneiras para continuar existindo enquanto o coronavírus se alastra

Gramado Summit, evento que ocorre anualmente em Gramado, na Serra Gaúcha, com a participação de milhares de empreendedores vindos de todas as partes do Brasil, teve de ser remarcada. Em vez de agosto, como normalmente ocorre, deve acontecer de 30 de setembro a 2 de outubro, na Expogramado.

Marcus Rossi, 32 anos, CEO do projeto, diz que mesmo que a pandemia acabe antes, a decisão foi baseada também em outras questões. "As previsões para o fim da quarentena eram de 30 a 60 dias, então, tudo voltaria ao normal. Mas, com o passar dos dias, as instituições de saúde não conseguiram mais afirmar uma data com certeza. Concluímos que, por mais que em agosto estivesse tudo bem, precisaríamos do mercado aquecido", pondera.

A crise, interpreta Marcus, atingiu o setor de eventos de forma abrupta. "Não conseguimos ter uma noção do que acontecerá se ficarmos três meses em confinamento", comenta. Para ele, o governo federal sofre de inconstâncias no discurso e isso pode afetar, principalmente, os pequenos empreendedores.

"É preciso entender a micro economia e não só a macro", afirma, destacando que medidas para estabilizar os pequenos negócios são necessárias.

Marcus crê que o setor já dispõe de uma série de recursos tecnológicos que podem auxiliar os eventos a não serem cancelados ou adiados nessa situação. Como exemplo, ele cita as ferramentas de transmissão on-line que são, em maioria, gratuitas e de fácil acesso. "Desde 2017, batemos na tecla de que as empresas precisam se digitalizar. Precisamos estar numa nação digital", reflete.

Nesse sentido, o CEO adianta que, em outubro, as palestras do palco principal da Gramado Summit serão transmitidas ao vivo, plano que estava previsto para 2021, mas teve que ser antecipado. "Todos os 140 palestrantes e os cinco palcos do evento de 2020 estão confirmados", afirma. Uma das grandes atrações desse ano, inclusive, é o norte-americano Jordan Belfort, conhecido como o Lobo de Wall Street. Nos anos 1990, ele construiu uma das organizações de vendas mais dinâmicas e bem-sucedidas da história de Nova Iorque. Ele alcançou níveis financeiros que geravam US$ 50 milhões por ano.

Marcus prevê que, quando a situação normalizar, o público valorizará ainda mais as conexões e interações. "O fator humano nunca foi tão importante como agora."


Poa na Rua lança app para vendas

Adaptação. Esse é um dos conceitos essenciais para passar por qualquer crise que se estabeleça em um negócio. Atualmente, a provocada pelo surto de coronavírus tem feito o setor de eventos lembrar dessa lição e apelar para a criatividade.

Foi pensando em se adequar ao isolamento social que a startup gaúcha Poa na Rua lançou o Bora!. A ideia é ser uma plataforma on-line de expositores, com o objetivo de fomentar o comércio local.

Criado pelo casal Guilherme Fraga e Thiana Pinto, o Poa na Rua surgiu de uma necessidade dos dois. "Morávamos em Barcelona e lá tínhamos muitos momentos na rua. Voltamos para Porto Alegre e começamos a nos questionar se não tinha nada para fazer", conta Guilherme. Em busca de eventos na Capital, ele encontrou informações dispersas, espalhadas pelas redes sociais. Decidiu, então, unir o hobby de programação com o amor pela cena cultural através de um aplicativo. "Em março de 2018, criei o app nos sistemas Android e iOS. Em um mês, tinha mais de mil downloads. Percebemos que a dor não era só nossa", lembra.

Com a pandemia de coronavírus instalada e o decreto municipal que orienta evitar aglomerações, o negócio teve de buscar alternativas para se manter ativo e continuar apoiando a cena local. A ferramenta, então, listou alguns cursos e workshops para serem feitos em casa. Além disso, em desenvolvimento desde dezembro e com previsão de lançamento oficial em maio, o projeto reformulado do Bora! foi antecipado. Com cerca de 220 expositores parceiros, a plataforma servirá como uma alternativa para o varejo de rua. "Temos um contato próximo com empreendedores e sabemos que precisam vender seus produtos para pagar água, luz, aluguel", afirma Guilherme.

Focado em apoiar os comerciantes, o aplicativo não retornará lucro para a startup e funcionará no mesmo sistema do Mercado Livre. O cliente negociará diretamente com o vendedor. "A nossa intenção é mostrar as pessoas incríveis que estão por trás desses produtos, contar histórias", destaca. Para ele, após a pandemia, a lógica de consumo irá mudar. "O Poa na Rua nasceu para esse momento. Depois disso tudo, quem não dava valor para ir a um café, a uma feira, vai começar a dar", pontua.

Atualmente, o app soma cerca de 45 mil downloads, sem custos para quem baixa nem para quem expõe. Mas, se o evento quiser uma posição privilegiada, há planos de divulgação, o que gera renda ao casal.


Feira de moda plus size aposta em vitrine on-line

Frente aos efeitos do coronavírus, a BPSPOA, feira de moda para quem veste tamanhos grandes, criou um modelo de vitrine on-line. Nascida em 2016, a feira já teve 16 edições físicas que reúnem, em média, 600 pessoas a cada evento.

Viviane Lemos, que toca a empreitada com a sócia Gizela Fonseca, conta que uma edição teria acontecido no início de abril, mas foi cancelada. "Há dias, estávamos pensando em um protocolo para a feira em razão do coronavírus. Nossa ideia era distribuir álcool em gel de brinde", pontua. Como a situação mudou severamente nas últimas semanas e a orientação é para que todos permaneçam em casa, as sócias constataram que precisavam criar uma solução on-line para o evento.

"Não podemos ter contato físico, mas temos que manter viva a rede. Primeiro por nós, pelo projeto, mas também pelos empreendedores e clientes", destaca Vivivane, salientando que o valor investido pelos expositores no evento foi todo devolvido. "Entendemos que está todo mundo no mesmo barco, apesar da quebra financeira que isso nos causa."

A solução encontrada pelas sócias foi criar uma vitrine virtual. O objetivo é, aproveitando o engajamento da rede criada pelo evento, dar visibilidade a empreendedores e empreendedoras que dependem de feiras como a BPSPOA para manter seus negócios. "Estamos apostando que na nossa rede, quem puder, continue consumindo desses pequenos empreendedores para que possamos passar pela crise juntos", afirma.

Os pacotes de divulgação incluem desde publicação nas redes sociais da feira, envio de WhatsApp e e-mail marketing para público segmentado até produção de conteúdo em vídeo. O pacote mais básico oferecido pode ser contratado mediante contribuição espontânea ou no valor de R$ 37,00. O mais completo tem um custo de R$ 77,00.

Outro serviço lançado pela dupla é a central de distribuição. Como muitos expositores não são de Porto Alegre, Viviane explica que, agora, há a possibilidade dessas marcas enviarem seus estoques para serem administrados e despachados para os clientes por elas.

"É uma possibilidade para as lojas de fora do Estado manterem a entrega no Rio Grande do Sul mesmo em um possível fechamento de fronteiras. Outro ponto é que tem muita gente com estoque parado e dando frete gratuito para conseguir vender. Mas o empreendedor está pagando por esse envio, então, entregar a partir de Porto Alegre é uma maneira de reduzir esse custo", explica Viviane. Todas as novidades que funcionarem devem continuar existindo mesmo quando a feira voltar a seu formato físico.

 

Dos espaços kids aos kits para delivery

Lú Brito, da noite para o dia, viu sua fonte de renda sumir. Fundadora da Gurizada Faceira, empresa que monta espaços kids em casamentos, formaturas e aniversários, teve de desengavetar uma ideia antiga: delivery de artigos para distrair as crianças em casa.

"Foi bem difícil no começo. Desesperador para quem é empreendedor. Eu teria três eventos na semana seguinte ao início da quarentena. Um dinheiro que eu contava e não veio. A sensação é de incerteza, mas também de reinvenção. Quando comecei a empreender, foi após um pedido de demissão muito traumático. Durante essa queda, tive que me reinventar na dor também", conta Lú, sobre a adaptação à nova fase.

Há um ano, a empreendedora tinha tido a ideia de criar os kits lúdicos. A alta demanda de trabalho, no entanto, fez com que o projeto nunca saísse do papel. "Com os eventos acontecendo, nunca consegui validar o produto ou parar para fazer pesquisa de mercado. O projeto inicial era uma caixa de brinquedo, que ainda existe, mas já colocamos em prática essa adaptação", explica Lú. O kit básico custa R$ 58,00 e é composto por 15 cores de giz de cera, brinquedo de papelão, 12 cores de massinha de modelar, seis cores de tinta guache, um pacote com 100 unidades de folhas brancas em tamanho A4, uma folha A4 colorida e uma embalagem para guardar todos os itens. A encomenda dos kits, que podem custar até R$ 120,00, conforme a inclusão de outros brinquedos, pode ser feita pelas redes sociais da Gurizada Faceira. As entregas têm taxa de R$ 10,00 para a Capital e R$ 20,00 para região metropolitana, e são feitas no dia seguinte ao pagamento.

Ser ativa nas redes sociais foi fundamental para que Lú encontrasse o recorte necessário para o seu produto. "Estou em muitos grupos com mães e via mensagens como '20 soluções para brincar com as crianças sem sair de casa'. Nesses conteúdos, sempre tinha giz de cera, palitos, tinta guache. Parece bobo, mas muitos não têm em casa. É uma geração de tela, de celular", contextualiza.

Lú conta que há padrinhos comprando e pedindo para entregar na casa dos afilhados. "É aquela coisa do afeto. Do 'estou longe, mas faz um desenho pra mim'. Fico feliz em contribuir para que as pessoas possam espalhar carinho", emociona-se.

Sobre o futuro, a empreendedora acredita que seu negócio sairá fortalecido. "Posso até ter perdas financeiras, mas reinventar fortalece."


 

Fonte: Jornal do Comércio do RS, Geração E


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