A 22ª Vara Federal de Porto Alegre condenou o ex-diretor de uma rede de
farmácias pela supressão e redução de pagamentos de impostos em prejuízo
avaliado em aproximadamente R$ 8 milhões.
O Ministério Público Federal (MPF) ingressou com ação narrando que o
ex-diretor e o seu sócio foram responsáveis pela sonegação de tributos federais
ao prestarem declarações falsas às autoridades fazendárias e ao terem deixado
de recolher, dentro do prazo legal, valores de Imposto de Renda Retido na Fonte
(IRPF), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para o
Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (COFINS). Dessa forma, os denunciados teriam ocasionado
prejuízos de R$ 4.879.991,31 pelas declarações falsas aos agentes oficiais, e
de R$ 3.776.048,43 pelo não recolhimento devido de impostos, totalizando cerca
de R$ 8 milhões em tributos iludidos.
A defesa contestou, requerendo a absolvição sob os argumentos de
negativa de autoria e de exclusão da culpabilidade (que o réu não teve culpa
pelos fatos). Alternativamente, requereu ainda a desclassificação da acusação
de fraude nas declarações para a modalidade tentada.
O juízo da 22ª Vara Federal observou que a acusação do MPF postulou que
o não recolhimento devido dos tributos ocorreu entre outubro de 2016 e novembro
de 2107. Tendo em vista que a denúncia foi recebida em maio de 2021, e que o
delito de não recolhimento de tributos prescreve em quatro anos de acordo com a
Lei nº 8.137/90, o juízo reconheceu que somente o período de abril a novembro
de 2017 poderia ser considerado para o julgamento da acusação de fraude nos
recolhimentos.
Para o juízo, a materialidade do delito ficou comprovada a partir dos
documentos oficiais anexados ao caso. Já a autoria ficou evidenciada a partir
da comprovação de que o réu, ao lado de seu sócio, assumiu a condição de
diretor da rede em 2015.
Em depoimento prestado em juízo, o acusado disse ter herdado uma
situação difícil à frente da empresa, uma vez que o antigo controlador da
empresa foi preso no bojo da Operação Lava Jato, que foi então descoberta uma
fraude no balanço trabalhista da empresa e que, dessa forma, os bancos passaram
a não conceder mais créditos para a empresa.
O juízo considerou que a dificuldade financeira da empresa não justifica
a exclusão da culpa do réu: "Não se admite que a empresa adote a prática ilegal
como forma contumaz de manutenção dos negócios por longo período de tempo,
sendo razoável que se exija demonstração de medidas realizadas no objeto de saneamento
dos negócios, como por exemplo, a injeção de recursos próprios dos sócios, a
busca por créditos, o enxugamento da folha salarial (...)".
A alegação de que o delito teria sido apenas tentado não procedeu
perante o juízo, que observou que a rede de farmácia suprimiu informações,
deixando de aparecer no cadastro de devedores da Receita Federal, o que se
caracteriza como um crime concreto e executado.
O réu foi condenando à pena privativa de liberdade de três anos e seis
meses de reclusão e ao pagamento de 191 dias-multa, pena que, nos termos da
lei, foi substituída por duas restritivas de direitos, prestação pecuniária e
prestação de serviços à comunidade.
O outro sócio, por ter seu paradeiro desconhecido, foi citado por edital
e responde separadamente, em ação penal tramitando na mesma vara.
Nota M&M: Destacamos que esta decisão foi aplicada neste
processo específico, e pode servir como um norteador para futuras sentenças.
Porém, situações semelhantes poderão ter decisões diferentes, especialmente nas
esferas de primeiro e segundo graus.
Fonte:
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com edição do texto e "nota" da M&M
Assessoria Contábil