Institucional Consultoria Eletrônica

'Empreendedorismo prateado': histórias inspiradoras de quem abriu seu próprio negócio após os 60


Publicada em 13/10/2024 às 16:00h 


Trabalhos manuais, farmácia, cosméticos e alimentação são segmentos explorados por empresários que desejam se manter ativos e gerar renda

É numa casa grande com quintal, jabuticabeira e móveis antigos que muitas mulheres, boa parte idosa e já aposentada, dedicam parte do seu tempo a dar origem a bolsas, jogos de mesa, roupas e o que mais a imaginação permitir. Localizado no bairro Santo Antônio, na região Centro-Sul, o ateliê O Fio da Trama, que oferece cursos de bordado e outras artes manuais, também é a realização de um sonho de Rijane de Mont'Alverne, de 70 anos. Ela decidiu que não ficaria em casa depois de se aposentar e abriu o negócio em 2017 - fazendo parte do grupo de idosos que resolveram empreender após os 60 anos. 

"Trabalhei por mais de quatro décadas como executiva de recursos humanos e decidi não parar de trabalhar quando encerrei a carreira no mundo corporativo. Na verdade eu sempre tive o sonho de ter um espaço como esse e fui me planejando antes mesmo de me aposentar. É uma forma de me manter ativa, de não ficar em casa vendo a vida passar", diz.

De acordo com levantamento do Sebrae, baseado em dados da Receita Federal e do Portal do Empreendedor, no Brasil há 15.862.868 empreendedores com 60 anos ou mais na categoria Microempreendedor Individual (MEI), que engloba empresas com faturamento anual de até R$ 81 mil. Em Minas Gerais, são 1.735.945 empreendedores nesta categoria. 

Laurana Viana, analista do Sebrae Minas, aponta que esse perfil de empresário "traz na bagagem" diversas habilidades técnicas aprendidas ao longo da vida e que isso faz total diferença na hora de empreender. "Eles geralmente também têm a habilidade de lidar com pessoas, que é muito valorizada no mercado. A experiência traz maturidade, sensatez e jogo de cintura para saber conviver com diferentes temperamentos e situações desafiadoras", diz. 

Para Rijane, a maturidade e a experiência agregam tranquilidade ao processo. "O jovem tem sede de ganhar dinheiro rápido, de sempre acertar, o que é normal para a idade. Mas, esse é um tipo de angústia que não tenho mais. Fui construindo aos poucos, começamos com cinco alunas e hoje temos mais de 85. É uma forma de lidar com os negócios sentindo menos pressão, com mais foco em um propósito mesmo."

No ateliê de Rijane, além das aulas de crochê e bordado, as alunas também compartilham lanches e confidências, em um processo de acolhimento mútuo. "Lá elas falam das questões com maridos e filhos, sem tabus. Também é um lugar onde elas são vistas. Reparamos em quem cortou o cabelo ou chegou de roupa nova. Muitas pessoas adoecem quando saem do trabalho porque deixam de ser notadas, é como se elas 'perdessem' a importância fora do mundo corporativo", afirma. 

Além de ocupar a mente e socializar, muitas das alunas vão além do hobbie e fazem do trabalho manual uma nova forma de renda. "Temos várias alunas acima dos 50 que criaram suas próprias grifes e já estão comercializando seus produtos, inclusive exportando para outros países. Também é uma forma de incentivar o empreendedorismo das alunas", comemora. 

Faturando com a beleza

Viúva, mãe de três filhos que já saíram de casa e aposentada. Poderia parar por aí a biografia de Jurema Moraes, de 67 anos. Mas, há cerca de três anos, ela resolveu incorporar outro atributo: empreendedora. Aproveitou a experiência do passado, quando produzia cosméticos em seu salão de beleza, e hoje fatura cerca de R$ 8 mil por mês com sua linha de shampoos, condicionadores e leave-in - incluindo itens específicos para cabelos de pessoas negras. 

"Eu tinha o hábito de ir à igreja para me manter ativa, mas faltava algo a mais. Foi então que conheci um projeto social voltado para empreendedores e fui incentivada a retomar o trabalho com os produtos. Por lá aprendi muito sobre redes sociais e como empreender no digital. O mercado é muito competitivo, é preciso entregar excelência", aponta. 

Jurema refere-se ao Instituto de Pesquisas e Projetos Empreendedores (IPPE), que se mantém graças ao Fundo do Idoso, uma lei de incentivo fiscal que capta recursos privados para investimento em projetos sociais. Com estes recursos, a instituição já capacitou gratuitamente mais de 50 mil idosos desde 2018. 

"Ter acesso às capacitações gratuitas é uma mão na roda para quem não ganha muito com a aposentadoria e ainda tem poucos recursos para investir no próprio negócio. Ainda planejo me aprofundar mais na parte de gestão financeira. Costumo misturar as contas da empresa com as pessoais e isso me impede de analisar os resultados reais da empresa", argumenta a empresária.

As conquistas individuais, como de Jurema, contribuem para um ganho que é coletivo. A analista do Sebrae Minas Laurana Viana aponta que a economia do Brasil agradece a esse movimento empreendedor. "Mais pessoas produzindo é de extrema importância para manter a economia funcionando. A maioria não encontra oportunidades no mercado formal de trabalho, então trabalhar por conta própria acaba sendo uma forma de ganhar dinheiro e continuar consumindo", analisa.

Com o envelhecimento da população, a tendência é que as pessoas com idade acima de 60 anos estejam ainda mais presentes no mercado de trabalho - seja como empregados ou como empreendedores. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) neste mês, os idosos deixaram de ser a menor fatia da população brasileira em 2023 e, daqui a duas décadas, vão ser a maior delas. Segundo o instituto, atualmente, 15,6% da população tem 60 anos ou mais, ultrapassando os 14,8% dos que têm 15 a 24 anos. É a primeira vez que a população mais velha ultrapassa a mais jovem.

"Faro apurado" para as oportunidades

Depois de trabalhar por mais de três décadas no setor da construção civil e se aposentar em 2015, Carlos Henrique Araújo, de 67 anos, resolveu apostar em um segmento totalmente diferente para continuar na ativa. Após auxiliar um amigo na construção de um edifício em Sete Lagoas, a 60 km da capital mineira, ele recebeu uma das lojas como pagamento pelo serviço e começou a pensar em como poderia aproveitar o espaço. Após identificar uma demanda de mercado, acabou abrindo uma farmácia há quatro anos atrás. 

"Era uma bairro onde não havia muitos negócios desse tipo, enxerguei uma oportunidade e esse foi o fator decisivo. Eu investi cerca de R$ 500 mil, incluindo a montagem da loja e a compra de medicamentos, e tenho quatro funcionários, três atendentes e um farmacêutico. É um universo totalmente novo para mim, cada dia traz novos aprendizados", garante. 

O novo negócio também é uma oportunidade de ficar mais próximo da mãe Gisélia, de 99 anos, com quem convive durante a semana e faz aulas de pilates. No fim de semana ele ruma para BH para ficar com a esposa Luciana, de 63 anos, que também é engenheira aposentada, e o filho Lucas, de 27. 

"Os dois também me ajudam no negócio. Minha esposa cuida da parte de perfumaria de forma remota e faz o trabalho via home office. Não gostamos de ficar parados, quem passa a vida toda trabalhando não se acostuma a ficar em casa após se aposentar. Nosso objetivo é nos manter ativos", diz. 

Para Luiz Alves, psicólogo e professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, se manter ativo após a aposentadoria, além dos ganhos financeiros, também traz benefícios pessoais. "Boa parte da nossa vida é ocupada pelo trabalho, é onde construímos uma rotina e estabelecemos relações. A aposentadoria provoca uma quebra desse ciclo, no qual nos sentimos úteis, e é aí que um outro trabalho pode ajudar a manter essa percepção de que conseguimos produzir, ser independentes e trazer algo benéfico para a sociedade", diz.

Da horta para a mesa

Neta de italianos e apaixonada por cozinha, Maria Virgínia Andrade Guimarães, de 68 anos, empreende há poucos anos, mas usa a experiência de uma vida inteira em sua empresa de temperos e produtos congelados. Após a aposentadoria, ela e o marido Marcelo Guimarães, de 69 anos, deixaram o apartamento em BH e se mudaram para um sítio em Casa Branca, em Brumadinho, em busca de novos ares e qualidade de vida. Passar os dias descansando, no entanto, não estava nos planos. 

"Eu já tinha o hábito de fazer temperos, receitas da minha avó, e minha filha Marcela deu a ideia de começar a vender para complementar a aposentadoria. Fizemos tudo com muito cuidado. Ela desenvolveu a identidade visual e eu fui pesquisar o mercado para encontrarmos o que nos diferenciaria. Descobri que a maioria dos produtos tinha muito sal e conservantes, então fomos no caminho oposto, fazendo produtos naturais e com ingredientes da nossa horta", conta. 

A marca, batizada justamente de Casa Branca Especiarias, homenageia o ecossistema da região, que inclui a Serra do Rola Moça, e os produtos encantam pelas cores vivas e chamativas. O tempero Canela de Ema, que leva pó de hibisco, levou dois anos para ser desenvolvido para chegar à tonalidade lilás que Virgínia tanto almejava. Com o negócio, o casal fatura cerca de R$ 9 mil por mês. 

"Hoje, já vendemos também azeites saborizados, antepastos e pratos congelados, como panquecas e lasanhas. Além das vendas pelo site, também participamos de muitas feiras, umas três ou quatro por mês. Também desenvolvemos kits de Natal para empresas presentearem os funcionários, é uma importante fonte de renda para 'segurar' as contas nos primeiros meses do ano, que geralmente são mais fracos em vendas", diz. 

Virgínia também afirma que, desde o início, fez questão de procurar diversos cursos e consultorias, incluindo capacitações oferecidas pelo Sebrae, para fazer a coisa "do jeito certo". Para ela, isso é essencial não apenas para a saúde financeira do negócio, como também para a saúde "no sentido literal" da clientela. 

"Negócio alimentar é coisa séria, não é porque é artesanal que é 'fundo de quintal'. É essencial sabermos fazer um produto que, além de gostoso, é seguro. Também precisamos entender sobre aspectos contábeis e precificação, para obter lucro. Esse último ponto, aliás, é um ponto em que muitos empreendedores acabam escorregando."

Para a analista do Sebrae Minas, é fundamental que os empreendedores da terceira idade continuem buscando capacitações para não ficarem defasados no mercado. "Em um mundo cada vez mais digital, pessoas idosas muitas vezes têm uma dificuldade em lidar com mudanças cada vez mais rápidas. É preciso continuar aprendendo sempre para trabalhar por mais tempo e obter bons resultados", afirma Laurana. 

Ninho vazio? Aqui não!

Muitas vezes, o empreendedorismo é uma forma de transformar um hobby em negócio e, de quebra, ocupar o tempo para evitar a "síndrome do ninho vazio" - sentimento de solidão provocado pela saída dos filhos de casa. Nutricionista de formação, Laura Couto, de 61 anos, já não atuava na área há muitos anos. O que não significa que ela era "livre de serviço" em seu dia a dia. Fera na máquina de costura, ela tinha o hábito de produzir toucas cirúrgicas para a filha Maria Teixeira, que é médica. E daí surgiu um novo negócio, que se profissionalizou no ano passado.

"No início eu fazia sem pretensão, até que participei de um curso de empreendedorismo e percebi que poderia começar a vender. Me aperfeiçoei nas redes sociais e no WhatsApp e minha filha me indica clientes, que são colegas de profissão. Em meses bons eu chego a faturar mais de um salário mínimo por mês", conta. 

Planejando sua aposentadoria para daqui alguns anos, ela afirma que o novo negócio tem trazido "uma renda extra", além de facilitar sua inserção no mercado de trabalho, "uma vez que nem sempre as empresas estão dispostas a contratar os mais velhos". Além disso, é uma forma de manter a cabeça ocupada e não sentir a falta dos três filhos, que já saíram de casa. A última foi justamente Maria, que se mudou neste ano. 

"Empreender neste momento, em que estou morando sozinha, tem sido essencial. A síndrome do ninho vazio é terrível. A gente vive naquela rotina de servir marido e filhos e, quando o pessoal sai, a gente acaba se sentindo 'inútil'. Ter um negócio mostra que nosso tempo não passou. Me sinto útil, faço novos amigos e dou minha contribuição para a sociedade. Além da graninha que entra, é claro", diz. 

De acordo com Juliana Marcondes, coordenadora do curso de psicologia da Estácio BH, a ausência de uma rotina de trabalho pode potencializar a solidão provocada pela saída dos filhos da casa dos pais. "Nesse cenário, empreender vai permitir que esse idoso descubra novas habilidades e novos conhecimentos, construindo novos laços sociais e preenchendo esse espaço deixado pela aposentadoria ou pela ausência dos filhos", explica. 

Além disso, ela também frisa que é possível "se preparar" para este momento mesmo antes da chegada da terceira idade. "Em algum momento, muitos de nós iremos nos aposentar e nossos filhos vão decidir seguir a vida fora de casa. Assim, é benéfico investir em algumas áreas, como a prática de atividades físicas e a construção de grupos afetivos com quem você possa contar."

Nota M&M: A M&M Assessoria Contábil tem expertise no atendimento aos empreendedores, São mais de 35 anos ao lado da comunidade empreendedora. Contate-nos pelo telefone/whatsapp (51) 3349-5050.

Fonte: O Tempo








Telefone (51) 3349-5050
Vai para o topo da página Telefone: (51) 3349-5050