Em
uma sociedade altamente conectada, imersa em rotinas e demandas online, o que
temos de mais importante é a privacidade das nossas informações pessoais.
Buscando reforçar a consciência sobre a segurança da nossa identidade no meio
virtual, no último dia 28 foi celebrado o Dia Mundial da Proteção de Dados. A
campanha é uma oportunidade de reflexão acerca dos direitos e responsabilidades
no uso de dados pessoais, bem como de debater sobre os desafios ainda
enfrentados por organizações e cidadãos para alcançar a plena conformidade com
a legislação. Mais do que uma celebração, a data representa um momento para
educar, reiterar boas práticas e avaliar o impacto da Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD) na transparência e confiança nas relações digitais.
Contextualizando, a
LGPD foi sancionada em agosto de 2018 e está plenamente vigente desde setembro
de 2020, tendo marcado uma transformação significativa no panorama da
privacidade e proteção de dados no Brasil. Desde sua vigência, a LGPD tem sido
progressivamente incorporada nas decisões judiciais. De acordo com estudos de
mercado, em 2021 foram identificadas 274 decisões em que a LGPD foi utilizada
de forma relevante. Esse número aumentou para 665 em 2022 e alcançou 1.206 em
2023, representando um crescimento de 81,4% entre 2022 e 2023. Até fevereiro de
2024, um levantamento apontou que a LGPD foi mencionada em mais de 14 mil
decisões judiciais, sendo 10.573 sentenças da primeira instância da Justiça
paulista e 4.032 de tribunais superiores.
Isso
reflete um impacto positivo para a segurança de dados dos brasileiros e reforça
a necessidade de cumprimento da legislação. Outro ponto relevante é que a LGPD
impulsionou as organizações a investirem em compliance - conjunto de normas e
monitoramentos que devem ser seguidos para garantir aderência às disposições da
lei. Nota-se uma maturidade maior do mercado nesse sentido e um exemplo que
ilustra esse contexto é que compradores estão mais rigorosos em relação à
homologação de seus fornecedores, exigindo aparatos jurídicos, processos, evidências
e, por vezes, auditorias, levando fornecedores a também revisarem e aprimorarem
seus procedimentos em compliance.
Principais riscos da
exposição de dados para pessoas e empresas
A exposição de dados
pessoais na internet pode gerar diversos problemas. Para os cidadãos, um dos
mais comuns é o roubo de identidade, em que informações como CPF, RG e
endereços são utilizadas para abrir contas falsas, cometer fraudes financeiras
e comprometer o histórico de crédito. O vazamento de dados bancários como números
de cartão e senhas também pode resultar em prejuízos monetários significativos.
O pior é que a violação de privacidade vai além das questões que envolvem
dinheiro. Uma vez em mãos erradas, informações sensíveis como prontuários
médicos, localização e preferências podem levar a constrangimentos,
discriminação ou até mesmo à chantagem.
Para empresas, as
ameaças cibernéticas em torno do vazamento de dados também são reais e as
consequências podem afetar diversos aspectos do negócio. Em termos financeiros,
as empresas precisam lidar com os custos de resposta a incidentes como
investigações forenses, notificações a clientes e recuperação de sistemas. Além
disso, as multas regulatórias impostas pela LGPD podem ser significativas,
alcançando até 2% do faturamento ou mais. A perda de reputação e credibilidade
é outro grande impacto. A confiança dos clientes, investidores e parceiros é
fundamental para o sucesso de qualquer negócio.
A espionagem
corporativa e a exposição de propriedade intelectual também são riscos. O roubo
de dados confidenciais como estratégias de mercado, pesquisa e desenvolvimento,
ou informações de patentes pode causar complicações irreparáveis. Isso sem
contar na possibilidade de interrupção das operações, causada por ataques de
ransomware, que pode levar à perda de produtividade e a altos custos para
reparação dos danos.
Ferramentas úteis
Dada a importância
da conformidade com a legislação e a necessidade de proteger informações
sensíveis, pessoas e empresas devem recorrer a ferramentas e estratégias
robustas de segurança digital para mitigar riscos e evitar dores de cabeça.
Entre os recursos mais relevantes para esses fins, estão os certificados
SSL/TLS, por exemplo, que garantem a criptografia de dados durante o tráfego
online, prevenindo acessos não autorizados e assegurando a integridade das
informações. Já em termos de soluções de identidade digital, existem os
certificados para assinatura eletrônica que permitem que empresas implementem
fluxos de trabalho mais seguros e auditáveis, facilitando a validação de
documentos e contratos. Organizações também podem contar com o S/MIME
(Secure/Multipurpose Internet Mail Extensions), responsável por criptografar
e-mails e garantir que as comunicações não foram interceptadas e alteradas,
evitando golpes por phishing ou ransomware.
Já as pessoas
físicas podem proteger seus dados com o uso de gerenciadores de senhas, que
criam e armazenam senhas fortes e únicas, reduzindo os riscos associados ao uso
de combinações fracas ou repetidas. Outra alternativa é ativar a autenticação
de dois fatores (2FA), que adiciona uma camada extra de proteção e exige uma
segunda verificação (como um código enviado ao celular) mesmo que a senha seja
comprometida.
A proteção de dados
pessoais é um pilar indispensável para a segurança e a confiança nas relações
digitais. Tanto para indivíduos quanto para empresas, adotar medidas
preventivas e ferramentas tecnológicas robustas é essencial para mitigar riscos
e cumprir as exigências legais. Além de atender a obrigações jurídicas, investir
em privacidade e cibersegurança reflete um compromisso com a responsabilidade e
a ética no uso de informações, promovendo um ambiente digital mais seguro,
confiável e resiliente frente aos desafios do mundo conectado.
Autores: Luiza Dias, Diretora Presidente da GlobalSign
Brasil e Rodolfo Spigai, Sócio Proprietário da VAR Business Beyond.