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LGPD - Associação não terá de cumprir norma coletiva que fere Lei Geral de Proteção de Dados


Publicada em 22/03/2025 às 10:00h 

Cláusula previa fornecimento de dados pessoais considerados sensíveis

Resumo:

·       A norma coletiva previa o repasse de dados pessoais de empregados à empresa gestora de um cartão de descontos.

·       A empresa justificou que deveria zelar pela privacidade de seus empregados.

·       Segundo a 1ª Turma, a exigência é ilegal porque não houve consentimento dos trabalhadores.

A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho rejeitou recurso de um sindicato dos empregados, que pretendia que uma tradicional Associação enviasse a uma empresa administradora de cartão de descontos dados pessoais de seus empregados.  Segundo o colegiado, a medida fere a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD - 13.709/2018), por se tratar de privacidade, direito fundamental indisponível.

Dados iriam para administradora do cartão

As convenções coletivas da categoria vigente entre 2019 e 2023 previam um benefício chamado "Bem-Estar Social", cujo objetivo seria conceder vantagens por meio de um cartão de descontos administrado por um Clube de Benefícios Sociais. Para a emissão do cartão, mediante mensalidade paga pelo empregador, este teria de informar, por e-mail,  nome completo, CPF, telefone, e-mail, data de nascimento e nome da mãe de cada empregado. 

Em junho de 2022, o sindicato ajuizou a ação informando que a associação não vinha cumprindo essa cláusula da norma coletiva. Disse que tentou várias vezes entrar em acordo nesse sentido, mas a instituição sempre ofereceu resistência, recusando as tentativas de conciliação.  

A associação, em sua defesa, sustentou, entre outros pontos, argumentou que as informações exigidas eram classificadas pela LGPD como "dados sensíveis", e os empregadores, de acordo com a lei, têm o dever de resguardar os dados pessoais de seus funcionários e zelar pela sua privacidade.

Sem sucesso na primeira e segunda instância, o sindicato tentou a análise do caso pelo Tribunal Superior do Trabalho, sustentando que a convenção coletiva de trabalho reflete a realidade e os interesses legítimos dos empregados, e a cláusula visa à melhoria dos benefícios aos trabalhadores. "É preciso garantir a prevalência da vontade coletiva expressa na cláusula normativa", defendeu.

Acordo coletivo não pode dispor sobre direitos indisponíveis

Para relator do recurso, ministro Amaury Rodrigues, a exigência é ilegal. Ele explicou que a LGPD, em sua parte geral, entrou em vigor em agosto de 2020 e prevê que o tratamento de dados pessoais exigirá o consentimento do seu titular - no caso, dos empregados da associação. Não se aplica ao caso, a seu ver, a tese do Supremo Tribunal Federal (Tema 1.046) sobre a validade das normas coletivas. "O que se discute são os direitos relacionados à privacidade de dados pessoais dos empregados", afirmou, lembrando que a proteção específica à intimidade e à vida privada é um direito indisponível, que não pode ser negociado. 

A decisão foi unânime.

Nota M&M: Destacamos que esta decisão foi aplicada neste processo específico, e pode servir como um norteador para futuras sentenças. Porém, situações semelhantes poderão ter decisões diferentes, especialmente nas esferas de primeiro e segundo graus.

Fonte: Tribunal Superior do Trabalho, Processo: Ag-AIRR-1000888-31.2022.5.02.0088, com edição do texto e "nota" da M&M Assessoria Contábil








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