Muito
se debate hodiernamente sobre a utilidade do fluxo de caixa descontado, o
que justifica esta reflexão, que aborda a hipótese de uma cognição
epistemológica[1] a partir de uma interpretação
axiológica[2] do FCD, o que demonstra
verdadeiramente a essência do fluxo de caixa descontado.
O
estudo das anormalidades que se verificam na interpretação do FCD voltado à
divulgação do EBITDA de lucros e valorimetrias de um negócio
e suas consequências, no âmbito do mundo dos negócios revelam uma patologia do
FCD, portanto, a patologia é uma matéria científica que identifica, se existir,
um processo destrutivo, deliberado ou não, nas informações econômicas
financeiras, cujas consequências podem chegar a uma falsa percepção da real
situação patrimonial, por erro gravíssimo de cognição.
A
geração de lucro é algo totalmente distinto da geração de caixa, como a
remuneração de um investimento, também é algo totalmente distinto da
recuperação do capital investido que ocorre pela depreciação, amortização e
exaustão. Pois utilizar um pseudo lucro antes do imposto de renda,
da contribuição social e da depreciação como critério de saúde
econômico-financeira é uma ilusão, equiparada a uma falsa informação, portanto,
é um crime de hermenêutica.
E
para além da distinção entre geração de caixa e geração de lucros, alertamos
para a hipótese de uma falsa percepção da real situação financeira futura, pois
a ocorrência de acerto ou desacerto em uma precificação, na avaliação do fluxo
de caixa, decorre da probidade. A Teoria das Probabilidades, aplicada na
valorimetria, verte do estudo matemático das probabilidades. Logo, representa o
motivo ou indício que deixa presumir a possibilidade, ou impossibilidade da
ocorrência de um fato ou fato patrimonial, por verossimilhança. A probabilidade
consiste na checagem do número de casos favoráveis, constante do universo de
hipóteses avaliadas, dividido pelo número de casos igualmente possíveis.
O
filosofo Karl[3] já alertava sobre o risco da
ocorrência de eventos não previstos nas premissas estabelecidas para a
probabilidade, conforme segue:
"A probabilidade é o número de
casos favoráveis dividido pelo número de casos igualmente possíveis é de
considerável interesse heurístico. A maior falha dessa definição está em que
ela se aplica, digamos, aos dados homogêneos, ou simétricos, mas não abre
margem para pesos diferentes nos casos possíveis."
HOOG e CARLIN[4] em sua doutrina informam:
"Para
se evitar argumentações sofismáticas[5],
podemos dividir a probabilidade, no caso de fluxo de caixa descontado, em seis
possiblidades mínimas ou premissas básicas, como segue:
·
1ª hipótese: acertar a predileção;
·
2ª hipótese: a de existir uma concorrência acirrada, que mude o market-share
e o resultado da predição especulativa da valorimetria do caixa;
·
3ª hipótese: a de existir uma depressão econômica;
·
4ª hipótese: a de existir uma recessão econômica;
·
5ª hipótese: a de existir uma estagnação econômica;
·
6ª hipótese: a de não ocorrer nenhuma das alternativas anteriores, como por
exemplo, a quebra do principal fornecedor ou rescisões de contrato.
Diante
destas premissas, é possível concluir que:
1. A probabilidade de se acertar a predileção do fluxo de caixa é de
apenas 16,67%, logo, de 1/6;
2. A probabilidade de 5/6, é para se errar a predileção, logo, a
possiblidade de erro é de 83,33%;
3. Para se evitar a possibilidade de indenização, a bem da verdade
científica, à luz da essência sobre a forma, e à luz da razoabilidade e
proporcionalidade, que no laudo de avaliação conste de forma clara que existe
uma grande probabilidade de erro na avaliação, pois esta possibilidade é
relevante, a chance de erro é de 83,33%;"
E
por derradeiro, acreditamos ter mostrado, ainda que brevemente, a distinção
entre lucro, resultado econômico e geração futura de caixa resultado
financeiro. Já que a concepção dos conceitos da ciência da contabilidade
é uma reposta possível para os usuários do FCD, porquanto, o combate às
patologias constituem uma forma de vínculo com a realidade, deste modo, não se
busca eliminar o uso do FCD, já que o estudo desta patologia, prestigia a
supremacia da ciência, pois a patologia vai direcioná-las a solução que se
espera dos contadores auditores e peritos pela via de um espancamento
científico puro e livre de preconceitos, interesses econômicos difusos, dogmas
e de paradigmas.
Divulgar
e admitir esta informação sobre ilusionismo do fluxo de caixa descontado, é
algo deveras relevante para os peritos, auditores e investidores.
E por derradeiro, espera-se que
as análises desta reflexão basilar, contribuam sobremaneira para o combate das
ilusões, pela via de um aperfeiçoamento das regras de divulgação dos
informações contábeis.
[1] Cognição epistemológica - à luz da Teoria Pura da
Contabilidade, significa tudo o que está vinculado à capacidade de adquirir
conhecimento, a partir do raciocínio lógico contabilístico, que leva ao
conhecimento científico, pois representa um estudo crítico das hipóteses e dos
diagnósticos obtidos com os procedimentos de ceticismo na busca de uma
asseguração contábil razoável, cumulativamente com a doutrina, com os
procedimentos periciais da testabilidade e da adoção de método de
investigação científico.
[2] Interpretação axiológica - interpretação que busca
explicitar os valores que serão concretizados com o conhecimento científico.
[3] POPPER,
Karl. A Lógica da Pesquisa Científica.
2. ed. São Paulo: Cultrix, 2013.
[4] HOOG,
Wilson Alberto Zappa, Carlin Everson Luiz Breda. Valuation Manual de Avaliação Teoria e Prática. 3.
ed. Curitiba: Juruá, 2025.
[5] Argumentos
sofismáticos são uma forma de argumentações enganosas, pois geralmente são
precedidos por premissas ou introduções supostamente verdadeiras, mas não
correspondem ao universo real.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
POPPER,
Karl. A Lógica da Pesquisa Científica.
2. ed. São Paulo: Cultrix, 2013.
HOOG,
Wilson Alberto Zappa, Carlin Everson Luiz Breda. Valuation - Manual de
Avaliação Teoria e Prática. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2025.
Autor: Wilson A. Zappa Hoog é sócio do Laboratório de
Perícia-forense arbitral Zappa Hoog & Petrenco, perito em contabilidade e
mestre em direito, pesquisador, autor da Teoria Pura da Contabilidade e suas
teorias auxiliares, doutrinador, epistemólogo, com 49 livros publicados, sendo
que existe livro que já atingiram a marca da 17ª edição.