Ganho de tempo, redução de falhas e automação de
tarefas são algumas das vantagens do uso da tecnologia; veja dicas de
empreendedores e saiba por onde começar a usá-la em sua empresa
No Brasil e no
mundo, a IA deixou de ser apenas um "hype" e entrou de vez no dia a dia das
empresas. E a realidade não é diferente entre os negócios de pequeno porte.
Estudos recentes do
Sebrae, principal entidade de apoio ao empreendedorismo no país, mostram que
44% das PMEs (Pequenas e Médias Empresas) já usam alguma ferramenta de IA.
A perspectiva
positiva em relação à tecnologia no longo prazo também já a coloca em posição
privilegiada nos planos de negócios e investimentos para os próximos anos.
De acordo com um
estudo da Microsoft, 75% das micros, pequenas e médias no país estão otimistas
em relação ao impacto da tecnologia, enquanto 73% devem manter ou iniciar seus
investimentos em IA.
Os dados evidenciam
uma tendência clara: a IA deixou de ser promessa e passou a ser prioridade
estratégica. Mas, diante desse movimento acelerado, surge a dúvida entre muitos
gestores: por onde começar?
A adoção eficiente
da tecnologia nos negócios exige mais do que investimento: demanda
planejamento, adaptação de processos e, principalmente, alinhamento com os
objetivos do negócio.
Para agregar a IA à
sua PME, confira as principais estratégias e dicas de empreendedores que já
iniciaram as suas jornadas com a tecnologia:
Escolha uma IA de
prateleira que permita criações próprias
A Vaapty, franquia
de intermediação de veículos, começou sua jornada com a inteligência artificial
pelo básico.
Adotando uma IA "de
prateleira", com funcionalidades comuns e facilmente aplicáveis em qualquer
tipo de negócio, a Vapty pôde, com o tempo, evoluir nessa frente, adaptando
tecnologias já existentes no mercado, como OpenIA e Gemini.
Na prática, a rede
desenvolveu recursos para automatizar funcionalidades que atendem a
necessidades específicas do mercado em que está inserida: o de compra e venda
de veículos.
Na lista estão um
painel de monitoramento, um banco digital proprietário voltado para o setor
automotivo e o serviço de perícia cautelar veicular feito totalmente por IA.
Em conjunto, a
tecnologia própria criada com base em IAs já existentes gerou 60% de economia
aos franqueados e 20% de crescimento na receita da rede, afirma o CEO, Ycaro
Martins.
Para quem quer
implementar IA no dia a dia operacional, e então adaptá-la para mais eficiência
- como fez a Vaapty -, o empreendedor recomenda a atuação próxima de um
especialista, para que a aplicação da tecnologia não se descole do modelo de
negócio da empresa.
"Antes de fechar uma
nova tecnologia, traga um especialista no assunto para o seu time, alguém que
tenha sinergia com o modelo de negócio, pois ao fazer isso de forma
independente, sem muito conhecimento, há o risco de gastar muito e não receber
a plataforma esperada", diz.
Encontre o parceiro
ideal e foque no seu setor
Com uma infinidade
de opções à disposição, é difícil decidir os rumos do investimento em
tecnologia, especialmente diante de uma lista crescente de provedores de
softwares dotados de IA.
Na Fast Tennis, rede
especializada em academias de tênis, a escolha se tornou um pouco mais simples
graças à associação com a startup Play Fast, plataforma de gestão digital.
A empresa se
aproximou da Play Fast ao adotar a inovação aberta, modelo no qual startups
desenvolvem soluções para problemas específicos de outras empresas, em um
modelo de cocriação e que fomenta a criatividade.
O intuito da Fast
Tennis era melhorar a experiência dos clientes - praticantes do esporte que
buscavam mais praticidade ao agendar e cancelar aulas.
Com a plataforma da
Play Fast, a Fast Tennis passou a permitir agendamentos, facilitar pagamentos e
também identificar padrões de comportamento e preferências de cada aluno,
incluindo possíveis chances de cancelamento de matrícula e agrupamento de
turmas por nível de experiência, com base em machine learning.
"Para quem deseja
seguir esse caminho, aconselho o investimento em soluções específicas para seu
setor, uso IA para resolver tarefas com alto custo humano e focar sempre na
melhoria da experiência do cliente", aconselha o CEO da rede, Lucas André.
Vá além do
operacional e acompanhe os dados
O market4u, rede de
mercados autônomos que opera em condomínios residenciais e comerciais, têm
utilizado a IA como uma densa base de dados com potencial de determinar
escolhas estratégicas da rede.
Por meio da análise
de informações em tempo real, a rede ajusta o mix de produtos de cada ponto de
venda e também personaliza ofertas.
"A inteligência
artificial tem nos ajudado a transformar dados em decisões mais rápidas e
assertivas", afirma Eduardo Córdova, CEO e sócio-fundador do market4u, que
reforça a importância de aplicar IA nos negócios para além da automação de
tarefas repetitivas, mas como um aliado na captura de dados que possam
influenciar passos estratégicos da operação.
Com a ferramenta de
IA voltada à precificação, por exemplo, o market4u altera o preço dos
sortimentos com base no comportamento de consumo de cada região, e já aplica a
tecnologia a 75% de suas unidades.
Use a tecnologia
para resolver problemas
A automatização de
tarefas e a redução de falhas humanas foi o que motivou a Singular Serviços,
empresa da área de facilities, a adotar inteligência artificial.
Em pouco mais de
cinco meses, a rede pôde driblar alguns dos principais problemas que encarava,
como as falhas humanas, dados desconectados e dificuldade em alocar equipes de
limpeza de forma mais eficiente.
"Como os cronogramas
de limpeza e segurança não eram acompanhados com precisão, havia riscos de
falhas na execução do serviço. Também havia um alto custo com contratações e
sobrecarga de trabalho", lembra o CEO da empresa, Harrison Júnior.
Com a IA, dados
sobre os trabalhos planejados e realizados em áreas como limpeza e segurança
passaram a se integrar, permitindo identificar rapidamente desvios operacionais
e falhas que antes poderiam passar despercebidas. Além disso, a IA passou a
atuar de maneira preditiva, antecipando necessidades e identificando gargalos
com base no comportamento dos clientes, dados de vendas e histórico de
inadimplência.
Já os ganhos
financeiros vieram em forma de economia ao reduzir contratações desnecessárias,
incluindo em funções manuais que hoje são totalmente automatizadas.
Para o executivo, o
segredo para adotar IA de forma eficiente em uma PME está em começar com
aplicações simples e ter clareza dos problemas que se deseja resolver.
"Mais do que automatizar, a IA precisa ser útil no dia a dia. A tecnologia
certa, usada do jeito certo, faz toda a diferença", afirma.
O resultado do
posicionamento, na Singular Serviços, foi uma economia superior a 20% em custos
operacionais.
Faça da tecnologia
sua consultora para personalização
Para a Lavô, rede de
lavanderias, o melhor uso para IA está relacionado à personalização da jornada
do cliente. O segredo está em melhorar a experiência dos clientes das
lavanderias, oferecendo ao público um nível de personalização similar ao
entregue por consultores especialistas.
De maneira
"invisível" a rede usa IA para analisar dados, mapear o perfil dos usuários -
com base em informações como horário e perfil de uso - para sugerir ajustes e
melhorar a jornada (com cupons personalizados, por exemplo), e assim fidelizar
a clientela.
Para empresas que
desejam seguir esse caminho, a dica é usar a IA para flexibilizar a entrega, e
usar os dados para adaptar o serviço ao comportamento real do cliente, avalia
Angelo Max Donaton, CEO da Lavô.
"Personalização,
quando guiada por tecnologia, vira diferencial competitivo", diz.
Não deixe a
humanização de lado
Apesar dos ganhos em
produtividade em virtude da automação e redução do trabalho operacional, a
substituição da mão de obra humana deve ser vista com cautela. Eficiência e
humanização devem caminhar lado a lado, oferecendo uma experiência ágil, mas
também contextual, ao cliente final.
"A dica é não usar a
IA apenas como ferramenta de automação, mas sim como uma aliada estratégica
para impulsionar o crescimento do seu negócio", afirma Renata Barbalho,
fundadora e CEO da Espanha Fácil, empresa de consultoria de imigração, cuja
aplicação de IA por meio de assistentes virtuais, chatbots e uma IA própria tem
eliminado substancialmente o tempo de atendimento ao cliente e análise
documental.
Segundo Renata, a
tecnologia não substitui a atuação humana por completo. "Busque o
equilíbrio entre o atendimento humano e o suporte tecnológico, garantindo uma
experiência mais eficiente, segura e personalizada para o cliente",
comenta
Fonte: CNN Brasil