Vender sem nota
fiscal ainda é visto por muitos empreendedores como um meio de reduzir a
carga tributária. No entanto, essa prática expõe o negócio a riscos fiscais,
autuações, multas e até consequências criminais. O cenário exige atenção,
planejamento e a compreensão de que o caminho legal pode ser mais econômico e
seguro do que se imagina.
Por que vender sem
nota fiscal é um erro grave
O argumento mais
comum para justificar a prática de vender sem nota fiscal é a
tentativa de pagar menos tributos. Entretanto, o que parece uma economia
imediata pode resultar em um passivo impagável no futuro. O sistema tributário
brasileiro é estruturado para cruzar informações em tempo real por meio da Nota
Fiscal Eletrônica (NF-e), regulamentada pelo Ajuste SINIEF 07/2005 e
pelo Convênio SINIEF 06/89. Isso significa que toda compra realizada junto a
fornecedores já foi comunicada ao fisco. Se as vendas não forem registradas, a
Receita Federal e as Secretarias Estaduais rapidamente identificarão
inconsistências.
Esse descompasso
entre compras e vendas pode levar a fiscalizações, autuações e até à
responsabilização criminal pelo crime de sonegação fiscal, conforme previsto no
artigo 1º da Lei nº 8.137/1990. O risco é evidente: o empreendedor passa a ser
questionado sobre como adquire mercadorias sem realizar vendas formais, uma
situação insustentável para qualquer empresa.
Impactos financeiros
de vender sem nota fiscal
Além dos riscos
jurídicos, há também efeitos financeiros diretos. Muitas empresas acreditam que
não emitir notas é uma forma de aliviar o caixa, mas na prática ocorre o
contrário. O problema se intensifica em empresas do Simples Nacional que lidam
com produtos sujeitos a regimes de tributação diferenciados, como
o ICMS Substituição Tributária (ICMS-ST) e o PIS/Cofins monofásico.
No caso do ICMS-ST,
quando a mercadoria é adquirida com o imposto já recolhido antecipadamente, não
há nova incidência na venda dentro do estado. Contudo, por falta de
conhecimento ou erro no cadastro de produtos, muitos empreendedores acabam
recolhendo o tributo em duplicidade. O mesmo acontece com o PIS/Cofins
monofásico, que concentra a cobrança no fabricante ou importador. Na revenda,
não há nova tributação, mas inúmeros negócios continuam recolhendo
indevidamente.
Esses erros podem
resultar em pagamentos muito acima do devido. Em alguns casos, empresas acabam
reduzindo seu faturamento declarado para ajustar a carga tributária que
conseguem suportar, comprometendo a real saúde financeira do negócio.
Como evitar riscos e
organizar o negócio
A solução para esses
problemas está no planejamento tributário e na gestão correta das operações. O
primeiro passo é abandonar a prática de vender sem nota fiscal, que deve
ser considerada uma opção inexistente. Em seguida, é necessário revisar o
cadastro de produtos nas plataformas de venda, garantindo que cada item esteja
classificado com a tributação correta.
Com os dados
ajustados, a contabilidade poderá apurar corretamente os tributos e, inclusive,
buscar a recuperação de valores pagos indevidamente. A Receita Federal prevê
mecanismos de restituição de PIS e Cofins pagos em duplicidade, enquanto os
estados permitem ajustes para o ICMS-ST. Além disso, a adoção de regimes
especiais de tributação pode reduzir a carga tributária sem infringir a lei.
Por que abandonar a
prática de vender sem nota fiscal
Persistir em vender
sem nota fiscal não deve ser visto como estratégia de sobrevivência, mas
como um risco capaz de comprometer toda a operação da empresa. A fiscalização
eletrônica, os cruzamentos de dados e a legislação atual tornam praticamente
impossível manter essa prática sem consequências. Ao contrário, a correta
estruturação tributária permite reduzir encargos de forma legal, recuperar
valores pagos indevidamente e sustentar o crescimento do negócio.
O caminho seguro é
organizar a empresa desde o início, adotando boas práticas fiscais e utilizando
a contabilidade como parceira estratégica. Dessa forma, o empreendedor evita
autuações e multas, garante conformidade com a lei e constrói um empreendimento
sólido e preparado para crescer.
Fonte: Jornal do Brás, com edição do texto pela M&M
Assessoria Contábil