A colaboração entre marcas de segmentos distintos, como ocorreu entre a
farmacêutica Cimed e a fabricante de doces Fini na produção do hidratante
labial Carmed, pode aumentar significativamente as vendas. Mas a estratégia
exige planejamento para não resultar em algo 'forçado', mas sim que revele
autenticidade e entrega de valor
Nas redes
sociais, a ação de compartilhar um post em parceria com outro perfil ficou
conhecida como collab. A ação, que parece simples, pode fazer com que aquela
postagem receba muito mais visualizações e engajamento. O motivo é simples: ao
unir as forças de dois perfis, as chances de se alcançar mais seguidores aumentam.
Essa estratégia é cada vez mais comum entre grandes
empresas do varejo. Um exemplo é a parceria entre a farmacêutica Cimed e a
fabricante de doces Fini, que renovou o hidratante labial Carmed e
resultou em vendas que somaram R$ 23 milhões em apenas um mês.
A exemplo do que acontece nas redes sociais, com as
collabs as empresas somam seus atributos para entregar algo único, que
dificilmente existiria isoladamente, explica Patrícia Cotti, professora da FIA
Business School. Para ela, "essas parcerias geram desejo nos consumidores
por ser algo exclusivo e possuir uma narrativa cultural."
Saiba mais sobre o termo:
Quando surgiu - Collab é a abreviação de collaboration, em inglês, ou colaboração. Embora a
colaboração entre empresas exista desde sempre, a conceituação de collab
ganha força nos anos de 1990 para definir a soma de esforços de empresas de
segmentos diferentes ou complementares - e não concorrentes - para ganhar
mercado. Na origem, era mais comum na indústria da moda internacional, com
parcerias entre redes de luxo e populares, destaca Patrícia.
Um grande marco do conceito aparece em 2004, quando
o estilista Karl Lagerfeld, diretor criativo de marcas como Chanel e Fendi,
fechou uma parceria com a empresa sueca Hennes & Mauritz, conhecida como
H&M. A junção entre um dos estilistas de luxo mais aclamados e uma rede de
moda conhecida por vender produtos relativamente acessíveis abalou o
varejo. Essa collab tornou possível que diversas pessoas adquirissem peças
de um dos designers mais famosos do mundo, quebrando as barreiras entre luxo e
massa.
Embora a definição de collab tenha se disseminado a
partir dos anos de 1990, há casos anteriores, inclusive no Brasil. Por aqui,
uma das primeiras a realizar parceria do tipo foi a empresa de calçados
Melissa, com um projeto com o estilista francês Jean Paul Gaultier, em 1983. O
resultado foi a criação de sapatos vazados. Esse conceito ganhou força no país
com outra parceria, esta entre a Farm e a Adidas, que já completa dez anos e
resultou em 160 estampas.
Com o passar do tempo, a estratégia de colaboração
evoluiu para além do varejo de moda, entrando no ramo alimentício, explica
Patrícia, que exemplifica com a parceria entre a Cacau Show e a Disney.
Vantagens e desafios - Aumento nas vendas imediatas e melhora da percepção da marca são as
principais vantagens para as empresas envolvidas na parceria, segundo a
professora da FIA Business School. Além disso, a inovação gerada pelas collabs
pode atrair novos consumidores ao criar pertencimento, uma vez que o cliente tem
acesso a algo exclusivo.
Segundo Patrícia, os consumidores brasileiros
encaram as collabs não apenas como uma compra, mas como a chance de fazer parte
de uma história compartilhada, ou até mesmo de um movimento cultural.
Já o principal desafio é alinhar os valores e
posicionamentos das marcas. "Se a parceria soa forçada, o consumidor percebe
rapidamente e rejeita", diz. Além disso, é preciso tomar cuidado ao organizar a
operação dos itens, definindo como será a produção, distribuição e comunicação,
uma vez que esses fatores exigem sincronia entre as marcas.
Outro desafio é o risco de saturação, menciona
Patrícia, já que a todo momento surgem novas collabs no varejo. "Há um certo
cansaço com collabs que parecem apenas a soma de logotipos, sem uma proposta
real de inovação. Isso é ainda mais delicado no Brasil, onde o consumidor é
altamente conectado e crítico nas redes sociais, o que amplifica eventuais
falhas", diz.
Entre exemplos de collabs que ficaram negativamente
conhecidas, Patricia cita a parceria entre a Target e a Missoni, que gerou
frustração pelo excesso de demanda e falhas logísticas. "No Brasil, collabs
entre grandes redes e designers receberam críticas de consumidores pela
qualidade inferior. Isso mostra que, quando não há autenticidade ou entrega de
valor, a colaboração pode rapidamente ser alvo de críticas."
Cases atuais
Um exemplo de empresa que tem apostado em collabs para aumentar sua
participação no mercado é a Nutty Bavarian, que fechou parceria com a
Criamigos, uma empresa que produz bichinhos de pelúcia. A parceria resultou na
criação de um esquilo de pelúcia (mascote da Nutty Bavarian), que o
consumidor pode pendurar onde quiser, e que vem acompanhado de cones de
chocolate com nozes.
"As collabs não necessariamente são para os produtos de ponto de venda.
Já fizemos colaborações com a Biscoitê, nas quais eles produziram cookies com a
nossa marca. Também com a Santa Mônica, que criou um aroma de café com a Nutty
Bavarian", diz André Farias, COO da Nutty Bavarian. Segundo ele, sinergia,
qualidade de produtos e até mesmo a reputação da marca são fatores importantes
ao decidir pela collab.
"Apesar de nossa
parceria com a Criamigos parecer improvável, por unir comida com pelúcia, na
realidade é algo que fortalece as duas marcas", explica Adriana Auriemo, CEO da
Nutty Bavarian, que menciona que, ao apostar em uma marca conhecida no mercado
para
fazer a pelúcia
de seu mascote, o produto final é mais valorizado pelos consumidores.
Além disso, como a Nutty Bavarian trabalha com
monoproduto, a colaboração amplia seu portfólio, fornecendo novidades para os
clientes e ampliando as vendas.
Outro exemplo de collab recente aconteceu entre
a marca de cosméticos Flora, com sua linha OX, e a influencer Mari Maria,
que possui uma empresa de cosméticos com o mesmo nome. Na collab, as duas
marcas criaram a linha para cabelos OX Vita Glow. Para a Flora, a parceria fez
com que a empresa ampliasse o número de consumidores no longo prazo e,
consequentemente, as vendas. Já para a Mari Maria, a collab ofereceu a
oportunidade de entrar no segmento de produtos para cabelo.
Em uma das ações da marca para promover o produto
no PDV do Pão de Açúcar, no bairro do Jardim Paulista, que contou com a
participação da influenciadora, houve um crescimento de 500% nas vendas do
produto.
Fonte:
Diário do Comércio (https://dcomercio.com.br/publicacao/s/glossario-do-empreendedor-o-que-e-collab?utm_medium=email&utm_campaign=press_clipping_fenacon_-_5_de_setembro_de_2025&utm_source=RD+Station