"Começamos juntos, terminamos
juntos."
(Dom Paulo Evaristo Arns)
Primeiro, é
a agradável surpresa pelo convite a participar do chamado processo seletivo.
Cuidadosamente, você se prepara para a entrevista inaugural. Busca informações
sobre a empresa - sua história, valores, produtos e serviços comercializados -
e sobre seu mercado de atuação - a conjuntura vigente, os cenários, as ações da
concorrência.
No dia da conferência, você coloca sua melhor roupa e procura chegar antes do
horário agendado. No local marcado, outras pessoas, também vestindo seus
melhores trajes e talvez igualmente preparadas, aguardam com similar ansiedade.
É possível que uma atividade denominada "dinâmica de grupo" seja imposta a você
e aos demais postulantes ao cargo, divididos entre os descontraídos, os
nervosos e os armados com respostas prontas e pasteurizadas. Uma ou mais
entrevistas individuais posteriores elevam o nível de tensão. Nelas, você é
sabatinado e também testemunha grandes planos para o desenvolvimento da
corporação - e de sua carreira.
Eis que, após trilhar este percurso, você recebe um telefonema ou e-mail, em um
final de tarde, possivelmente de uma sexta-feira, comunicando-lhe sobre sua
admissão naquela companhia. Quanta alegria!
O final de semana é eletrizante e dormir no domingo à noite é missão quase
impossível. O sol precisa raiar.
Seu primeiro dia é movimentado. Você recebe senha e crachá, conhece seu local
de trabalho e as instalações da empresa, sendo apresentado a poucas pessoas. E
termina o expediente ainda muito entusiasmado, mas com a impressão de que
sobrou objetividade e faltou atenção, receptividade, hospitalidade.
Os meses se sucedem e em seu decorrer as novidades se convertem em rotina, as
expectativas em frustração, a dedicação em desânimo. Você passa a questionar
onde está a empresa daquele disputado processo seletivo e o que se perdeu pelo
caminho. Os dias tornam-se longos, o horário de partir custa a chegar.
Analogamente, a companhia passa a indagar sobre seu comportamento, suas ações
e, em especial, os resultados decorrentes de seu trabalho. Nos bastidores, você
pode ser qualificado como negligente, omisso e até desinteressado.
As empresas investem recursos e tempo de pessoas altamente qualificadas para
selecionar um profissional, mas deixam de promover sua integração efetiva ao
grupo. Carecem de pós-venda, dificuldade que talvez se manifeste na prestação
de seus próprios serviços.
Já os profissionais deixam-se abater pelos eventos e transferem às corporações
a culpabilidade pela sua perda de motivação, esquecendo-se de que esse é um
processo endógeno, sendo uma responsabilidade pessoal a perda do incentivo de
outrora, do brilho no olhar e da razão de ali ser e estar.
É por isso que costumo dizer que somos maus amantes. Trabalhamos muito, chegamos mesmo a lutar
para auferir determinadas conquistas, mas somos incompetentes para mantê-las e
desenvolvê-las. Perdemos a capacidade de nos apaixonar pelas coisas
que fazemos - e pelas pessoas que conhecemos. Entregamo-nos aos hábitos,
regras, normas e convenções. E, dessa forma, permitimos que os relacionamentos
despeçam-se da emoção, as refeições declinem do aroma e do sabor, a vida seja
vivida sem cor.
Por Tom Coelho