O ano de 1999 que está sendo para as empresas e empresários do Brasil um
ano de aprendizagem do empresariar numa economia estável. Acostumadas à
selvagem inflação que nos assolava há décadas as empresas e a população haviam
desenvolvido mecanismos de proteção que, se não eram totalmente eficazes, pelo
menos faziam com que a empresa sobrevivesse.
Veio o Plano real e com ele a estabilidade que desconhecíamos. As
empresas tiveram que, novamente, se ajustar a processos novos como uma nova
visão dos preços relativos, agora conhecidos pela população. Começamos a saber
o que é "caro" e o que é "barato" e o povo começou a ser
mais exigente, mais seletivo em suas compras, a descobrir o conceito de
"valor" agregado às compras que faz. E os prognósticos para a
estabilização da economia são muito bons para os próximos anos. Não há no
horizonte nenhuma previsão de que a inflação volte aos níveis anteriores ou
mesmo chegue aos dois dígitos mensais. O ciclo inflacionário do mundo acabou.
Minha sugestão é a de que os empresários reunam os seus funcionários e
comentem com eles este novo Brasil que está surgindo. Mostrem a eles que os
caminhos não são fáceis, mas que estamos conseguindo coisas que não poderiam
ser sequer imaginadas há alguns anos. O setor siderúrgico está totalmente
privatizado. Os monopólios estatais estão caindo. A economia brasileira é
grande e complexa e essas medidas demoram mais para serem implementadas no
Brasil do que nos outros países da América Latina. É bom que saibamos que todo
o PIB da Argentina é equivalente ao PIB do interior do Estado de São Paulo. Todo o PIB do
Chile é equivalente ao PIB do Grande São Paulo e todo o PIB do Uruguai é
equivalente ao PIB do bairro de Santo Amaro em São Paulo. Assim, a diferença de
magnitude precisa ser compreendida para que entendamos a razão da complexidade
de nossas reformas.
O ano 2000 será ainda mais competitivo. E os anos seguintes, ainda mais.
A globalização se fará ainda mais e a concorrência será mundial. Não estaremos
mais competindo com nossas empresas da cidade, nem do Estado, nem do Brasil.
Estaremos competindo globalmente. Sobreviverá a empresa que tiver competência,
estrutura de custos, caixa forte e pessoal altamente qualificado para produzir
com qualidade e prestar o melhor serviço aos clientes e além disso, reinventar
o seu setor, surpreendendo o cliente com produtos e serviços fundamentalmente
novos. O que mais vem nos preocupando é que as empresas têm feito, bem ou mal, projetos de
qualidade, reengenharia, benchmarking, resiliência. A verdade, no entanto é que
muito poucas empresas têm se preocupado com a construção da empresa no futuro.
O sucesso hoje, não garante o sucesso amanhã. É preciso criar o amanhã. É
preciso perguntar-se: Como será um dia típico de meu trabalho daqui a 5-10
anos? Quem serão meus concorrentes daqui a 5-10 anos? De onde virão os meus
lucros daqui há 5-10 anos? O que a tecnologia estará oferecendo daqui a 5-10
anos e que poderá afetar o meu trabalho? Etc., Etc..
Estamos vendo que as empresas estão, em sua maioria, olhando para o
próprio umbigo ou através de um espelho retrovisor. Poucas são as que estão
construindo o seu futuro, pesquisando oportunidades.
É preciso que entendamos que as empresas vencedoras hoje não foram
aquelas que perguntaram o que o cliente queria. São vencedoras as empresas que
surpreenderam o mercado com produtos e serviços fundamentalmente novos que nem
os clientes imaginavam como possíveis. Assim, a Microsoft reinventa o computador pessoal como
sistema windows. A 3-M reinventa o "recado com o "Post-it",
a TAM reinventa a aviação regional. A McDonald's reinventa o "fast-food" e
assim, veremos que as empresas que têm sucesso hoje foram aquelas que
literalmente reinventaram o
seu setor. Não foram empresas que apenas fizeram melhor, mais
rapidamente, com menos custo, aquilo que já faziam. Elas fizeram coisas
fundamentalmente diferentes.
Vencerá a concorrência neste processo de galopante globalização as
empresas que forem capazes de se reinventar, de regenerar suas estratégias e de
surpreender o mercado.
Assim, o que de fato muda neste final de década é que não será o maior que vencerá
o menos, mas sim o mais rápido é que vencerá o mais lento. É preciso ser
ágil, pensar rápido e agir mais rapidamente ainda. É preciso criar mecanismos
eficazes para que nossos funcionários participem ativamente dos processos de
decisão, planejamento e implementação de forma positiva e proativa. É preciso
criar na empresa a necessária "inteligência" para
analisar dados demográficos, psicográficos e tendências futuras. É preciso
conhecer cada vez melhor os mercados em que atuamos. É preciso, enfim, mudar, antes que seja
tarde.
Por Luiz Marins