Pesquisa
apresentada durante o Seminário da Rede de Observatórios do Trabalho ajudará na
formulação de políticas públicas para migrantes
O
perfil dos imigrantes que estão inseridos no mercado de trabalho brasileiro
está mudando, revela um estudo do Observatório das Migrações Internacionais
(OBMigra), divulgado durante o 3º Seminário da Rede de Observatórios do
Trabalho, que começou na segunda (11/06/2018) e terminou nesta terça-feira (12/06/2018), na
sede do Ministério do Trabalho, em Brasília. "A pesquisa mostra mudança no
perfil dos imigrantes internacionais no mercado de trabalho brasileiro a partir
de 2010. Houve uma nova composição de imigrantes, que agora vêm principalmente
do chamado Sul Global, mas não de países de fronteira, como os bolivianos ou
paraguaios, nem do Norte Global, como espanhóis, italianos e portugueses",
comenta o diretor do OBMigra, Leonardo Cavalcanti.
Hoje,
os haitianos compõem o maior coletivo de imigrantes no mercado de trabalho
brasileiro. Eles eram "algumas dezenas em 2010", mas o número aumentou a partir
daquele ano e, em 2013, já formavam o grupo mais numeroso, situação que se
mantém até hoje, com cerca de 30 mil a 40 mil haitianos no mercado de trabalho
formal brasileiro. Além deles, o estudo mostrou a presença de senegaleses e
bengalis, assim como dos tradicionais portugueses, bolivianos e paraguaios.
Agronegócio
- Segundo o OBMigra, o Brasil tem hoje em torno
de 130 mil imigrantes no mercado de trabalho formal. Eles atuam sobretudo no
final da cadeia produtiva do agronegócio, principalmente no Brasil meridional,
abrangendo São Paulo e os três estados do Sul do País - Santa Catarina, Paraná
e Rio Grande do Sul. "Estão atuando em abate de frangos e de suínos, ou no corte
de frango halal (produzido conforme os princípios do islã) para exportação. Foi
essa indústria que absorveu esse novo fluxo dos imigrantes", diz Cavalcanti.
Ele
explica que esses estudos são essenciais porque permitem definir o perfil do
trabalhador, revelando itens como sexo, país de origem, incorporação no mercado
de trabalho, salário e possíveis inconsistências, o que ajuda a elaborar
políticas públicas voltadas para esses trabalhadores. "Existem alguns
profissionais com formação de engenheiro, de arquiteto, de médico, trabalhando
em construção, em abate de aves e em outras situações de inconsistência de
status", salienta o diretor da organização. "Então, é fundamental ter esse
conhecimento profundo do campo e da realidade para construir políticas públicas
que permitam a inserção dos imigrantes no mercado de trabalho e na sociedade
brasileira."
Venezuelanos
- Já a situação dos venezuelanos aponta para um
perfil diferenciado, porque eles estão concentrados na porta de entrada, que é
Boa Vista. Os que estão se interiorizando, indo para São Paulo e Cuiabá, estão
trabalhando no setor de serviços e no atendimento ao público, como em bares e
restaurantes. "Mas eles não se misturaram, nem substituíram os imigrantes
haitianos. É outro perfil, outra realidade migratória", enfatiza Cavalcanti.
A
diferença principal é que os haitianos vieram depois de um terremoto no país de
origem, enquanto os venezuelanos chegaram devido a questões políticas e
econômicas. Muitos deles ainda resistem à interiorização e ficam em Boa Vista
porque têm a expectativa de que a situação vai melhorar no país de origem e
poderão voltar.
O
mais importante, de acordo com o diretor do OBMigra, é que ambos os perfis têm
um monitoramento estatístico, com dados sobre inserção no mercado de trabalho,
admissão, demissão e estoque dos imigrantes, enquanto estão entrando e saindo
do país. Esse levantamento é publicado pelo Conselho Nacional de Imigração
(CNIg), ligado ao Ministério do Trabalho. Os dados permitem que o CNIg defina
resoluções normativas para os imigrantes, aplicando políticas específicas e
normatizando questões relevantes para o Brasil.
Fonte: Ministério
do Trabalho/Assessoria
de Imprensa