Divergências podem induzir a
melhorias ou arruinar projetos, dependendo da forma como as discordâncias são
gerenciadas. Num ambiente aberto ao diálogo, os debates estimulam o
desenvolvimento de todos.
"Se existem duas pessoas numa sala com a
mesma opinião, então, uma é desnecessária". É com essa frase que o sócio,
consultor-sênior e coach ontológico da Appana Treinamentos, Paulo Corniani,
destaca a importância dos conflitos no ambiente de trabalho. Embora o termo,
muitas vezes, esteja associado a uma atitude negativa ou violenta, demonstra,
com o exemplo, que discordâncias são saudáveis e mais produtivas do que a
indiferença.
"Em todos os trabalhos com grupo, conflito
é um direito adquirido", define Corniani, acrescentando que isso faz parte do
processo democrático. "A democracia pede que a gente chegue a um acordo a partir
das diferenças, é o que leva a uma relação de ganha-ganha".
Na opinião da administradora, filósofa e
coach ontológica, Thalita Mazepa, a situação precisa ser encarada com
naturalidade. Um grupo de trabalho deve ser composto por pessoas de diferentes
visões, salienta a consultora. "Por comodidade, construímos equipes com pessoas
que pensam igual, para que as relações e a tomada de decisão sejam mais fáceis.
É na diversidade, porém, que se ampliam as possibilidades", argumenta.
Entre a paralisia e o diálogo
Para lidar bem com situações em que as
discordâncias são evidentes, é fundamental entender que existem vários tipos de
conflitos: alguns paralisam, inviabilizando debates sadios; outros, permitem o
diálogo, considerando os diferentes pontos de vista.
Uma das ocasiões em que a paralisia se
estabelece é a que envolve os conflitos velados, revela Mazepa. Nesse caso,
existe a figura do predador, "uma pessoa de personalidade mais forte e
dominadora, que impõe opiniões e visões, sem abrir espaço de escuta e fala para
os outros", descreve. Esse tipo de profissional irá atacar e anular quem
contrariar suas posições.
Há, ainda, os atritos emocionais, quando a
questão é levada para o lado pessoal. "A pessoa não consegue separar e encara
as discordâncias como ataques, gerando aumento de proporção dos conflitos",
explica Mazepa.
O pior cenário de todos, na opinião dos
especialistas, ocorre quando as divergências se desenrolam por "baixo dos
panos", sem chegar ao conhecimento dos líderes. Nesse caso, a paralisia ocorre
porque fica inviável gerenciar a disputa. "O gestor não sabe de onde vem o
problema e isso é o que mais acontece", alega Corniani.
Questão de maturidade
O que diferencia o bom do mau conflito é a
maturidade com a qual a situação é tratada tanto pelos envolvidos quanto pelos
líderes. E só se chega a esse nível de entendimento caso haja uma cultura
organizacional aberta ao diálogo transparente.
"Quando aprendemos a olhar os conflitos com
maturidade, temos mais clareza e objetividade do que está acontecendo",
esclarece Mazepa. Sobre o papel dos líderes, Corniani reforça que as
discordâncias não devem ser ignoradas. "O problema é não falar sobre o assunto.
Gerir o conflito é colocá-lo na mesa para que não ultrapasse o aceitável ou
deixe o ambiente tóxico", orienta.
No controle da situação
Cada conflito vai exigir uma solução
específica. Entretanto, existem alguns cuidados que facilitam o enfrentamento
dos problemas, conforme aconselha Mazepa.
Abordar
problemas, sem atacar pessoas
O conflito representa uma divergência que
não precisa ser resolvida como uma guerra. "Aliás, muitas guerras foram
evitadas pelo trabalho diplomático", defende.
Desenvolver
a escuta
Se as divergências nascem na fala, as
soluções surgem da escuta. "Só assim é possível compreender o outro", ressalta.
Reduzir a
burocracia
"Quanto mais simples e diretos forem os
processos, mais objetivas serão as relações humanas", frisa a consultora. Por
isso mesmo, ela indica a adoção de metodologias ágeis no dia a dia da empresa.
Investir na
gestão colaborativa
Ambientes
competitivos podem fomentar o combate entre as pessoas. Para evitar isso,
Mazepa recomenda que a gestão seja baseada em um modelo colaborativo, que
valorize o desenvolvimento coletivo, "sem subtrair o individual, a fim de que
as pessoas não se sintam anuladas enquanto indivíduos".
Fonte: Contas em
Revista
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