Este artigo poderá ser de grande utilidade para pessoas que
estejam pensando em empreender, montar um pequeno negócio. Os tempos estão
difíceis. A pandemia de Coronavírus, declarada oficialmente em março/2020 e
somente agora, maio/2022 começando a desacelerar, desestabilizou muita gente e
atrapalhou a vida de empresários e pessoas em geral e também trouxe desemprego.
É em momentos assim que muitas pessoas pensam em montar algum pequeno negócio
para não depender mais de emprego formal.
Os mais esclarecidos buscam auxílio profissional, contratando um
bom Contador, o que recomendo. Os menos esclarecidos e, supostamente, mais
audaciosos e autossuficientes, se aventuram sem buscar orientação profissional.
E aí começam os problemas.
Muitos pensam que para montar um pequeno negócio basta estalar os
dedos e, como num passe de mágica, seu negócio será aberto e vai prosperar.
Infelizmente, não funciona assim.
Em uma de minhas Disciplinas que leciono no Curso de Ciências
Contábeis na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, CONTABILIDADE PARA
PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS, abordo este tema sob o título Registro do Comércio.
Além da parte teórica, os alunos desenvolvem em grupos de trabalho a simulação
da Constituição de uma Sociedade Comercial. Abordo também conceitos importantes
sobre a atividade do MEI -Microempreendedor Individual. Estas são as duas
formas para que uma pessoa possa levar adiante sua ideia de empreender. Porém
não basta somente conhecer os aspectos legais destas atividades, tema que
pretendo abordar no próximo Artigo. É preciso ir além.
E aqui chegamos a um tema fundamental para quem pensar em
empreender, que é a atividade de Planejamento. Um bom profissional da Contabilidade saberá
dar as principais orientações nesta questão.
Porém, aqueles futuros empreendedores que não optam pela
contratação de um profissional da Contabilidade, nem sempre têm o conhecimento
técnico necessário para desempenhar essa atividade e, na maioria das vezes,
iniciam um voo cego, na busca de seu sonho. E, também na maioria das vezes,
acabam "quebrando a cara" por falta de Planejamento.
Mas o que significa a palavra "Planejamento"?
Em termos bem simples, planejar é prever acontecimentos futuros,
partindo de premissas básicas do presente. Transpondo esse simples conceito
para a atividade de empreendedorismo, qualquer pessoa interessada em iniciar
alguma atividade de negócio precisará estabelecer o quanto vai precisar de
recursos financeiros para levar adiante sua ideia de empreender. E aqui está a
grande questão: COMO FAZER ISSO?
É exatamente esta pergunta que este Artigo pretende responder.
Não dá para empreender sem recursos financeiros. Achar que vai
conseguir dinheiro emprestado de amigos ou parentes é um erro grosseiro.
Recorrer a bancos, por mais ínfima que seja a taxa de juros, é determinar
antecipadamente o fim de seu futuro empreendimento. Ou seja, em termos bem
simples, se não tem dinheiro, desista de empreender, pois não vai chegar longe
dessa forma. É preciso ter um mínimo para começar um negócio.
Todo negócio, obviamente, terá um gasto inicial com as
instalações, a estrutura necessária para desenvolver as atividades. Mesmo que
seja um comércio virtual, precisará destas instalações. A isso se dá o nome
técnico/contábil de ativo imobilizado. Portanto o empreendedor deverá
listar tudo o que ele vai precisar para iniciar o negócio e quantificar em
moeda corrente.
Além disso, é muito importante identificar os gastos que terá para
sua atividade. Os gastos se dividem em CUSTOS e DESPESAS. Os custos estão
ligados diretamente ao produto ou serviço que será comercializado, como mão de
obra, matéria prima, mercadorias. As despesas são os gastos acessórios, também
necessários, para a atividade, como aluguel, energia elétrica, material de
escritório, telefone, internet.
Não existe uma regra estabelecida para estes levantamentos. O que
este Autor recomenda é que seja considerado o valor levantado para o Imobilizado da
futura atividade mais o montante das despesas e dos custos por um período de 6
meses sem contar com o faturamento. Esta precaução visa evitar que o futuro
empreendedor tenha que recorrer a dinheiro emprestado já no início de sua
atividade, por falta de planejamento.
Para melhor compreensão, vou dar um exemplo bem simples,
considerando uma pequena venda de bairro, com revistas, balas, doces, bebidas,
lanches industrializados e outros produtos semelhantes.
Imobilizado - prateleiras, geladeira, balcão, expositores de
produtos.
Valor estimado - R$ 10.000,00
Despesas mensais - aluguel, energia elétrica, telefone, internet.
Não haverá no início empregado e o próprio empreendedor fará atendimento ao
público.
Valor estimado mensal - R$ 1.500,00
Custos - montagem do estoque de mercadorias para venda e reposição
mensal
Valor estimado mensal - R$ 2.500,00
Estimativa do Capital Inicial deste empreendimento
Imobilizado
R$ 10.000,00
Despesas - R$ 1500,00 x 6 meses
R$ 9.000,00
Custos - R$ 2500,00 x 6 meses
R$ 15.000,00
TOTAL DO CAPITAL
INICIAL R$ 34.000,00
Portanto, o que se recomenda a
este empreendedor que queira montar uma pequena venda de bairro, como descrito,
que ele tenha disponível, pelo menos, R$ 34.000,00.
Isto garantirá a ele funcionamento de seu negócio por 6 meses, sem
depender de dinheiro de terceiros. O faturamento, se houver neste período, será
um atenuante e ele poderá fazer alguma aplicação financeira para capitalizar
seu negócio mais adiante. Se ao fim deste período de 6 meses, o negócio não se
auto sustentar e dar condições de o empreendedor retirar um pró-labore razoável,
é melhor pensar em outra atividade pois dificilmente vai conseguir decolar.
O que se observa na prática, por desconhecimento e por falta de
experiência de pessoas que ficam desempregadas e recebem sua indenização é
que muitas vezes elas pensam que, tendo o dinheiro para montar o negócio (o
valor do Imobilizado), elas já podem pensar em empreender. Como foi demonstrado
neste simples exemplo, ter o dinheiro para o Imobilizado não é suficiente. É
preciso prever os custos e despesas também. O faturamento no início de qualquer
negócio pode não ser suficiente para cobrir estes gastos operacionais e aí já
começam os problemas de quem não se planejou.
Além deste Planejamento inicial, obviamente que o futuro
empreendedor deve pensar na sua formalização, como MEI - Microempreendedor
Individual ou em uma das formas legais de empresa.
Isto será objeto de um próximo Artigo.
Dúvidas e comentários podem ser encaminhados para fernando@universalsaude.com
- whatsapp (41) 9 8408 9115
Por Fernando Cafruni André
Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Contábeis. Empresário
do setor de saúde - www.universalsaude.com. Professor da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul
Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais, Disciplinas de Contabilidade para
Pequenas e Médias Empresas, Profissão Contábil e Contemporaneidade (Ética e
Normatização na Profissão de Contador). Orientador de alunos para elaboração de
TCC. Autor dos livros:ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL - Para Contadores de
Nível Superior. CURITIBA: APPRIS EDITORA E LIVRARIA EIRELI - ME, 2019. ISBN
978-85-473-2925-9 e CONTABILIDADE PARA PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS - Um Enfoque
Gerencial para Contadores, Administradores e Empreendedores. São Paulo: ACTUAL
EDITORA - GRUPO ALMEDINA - PORTUGAL, 2019. ISBN 978-85-62937-27-9.