Gastar no exterior sem cartão de crédito
internacional, pagar hospedagem em outros países com transferência instantânea
ou compartilhar o custo de um churrasco com amigos estrangeiros em segundos.
Este tipo de transação, impensável atualmente, está em testes e pode unir mais
de 60 países no Nexus, o "Pix Internacional". O sistema vai permitir transações
entre diferentes nações e moedas em até um minuto.
O Nexus está sendo desenvolvido dentro do hub de inovação do Bank Of
International Settlements (BIS), conhecido como "o banco central dos bancos
centrais", com sede em Basiléia, na Suíça. A ideia é integrar todos os países
que já contam com algum sistema instantâneo de pagamento e transferência, como
o Pix.
O desenvolvimento do Nexus está atualmente na fase de prova de conceito,
com testes entre sistemas de pagamento da Malásia, de Cingapura e da Zona do
Euro, por meio do Banco da Itália. O BC brasileiro participa como observador.
Com mais facilidade nas transferências internacionais - hoje os meios
são considerados custosos e pouco eficientes -, novas possibilidades de
negócios e comércios podem se abrir. Edlayne Burr, diretora executiva e líder
de Estratégia para Pagamentos da Accenture na América Latina, ressalta que os
turistas teriam menos custos para converter a moeda, por exemplo. A ideia é que
seja possível que o brasileiro no exterior consiga fazer uma compra, como uma
roupa ou uma refeição, de maneira tão simples como se paga com Pix dentro no
Brasil.
"A própria demanda pode se tornar cada vez mais
internacional, em que consumidores buscam produtos fora de seus países para
consumir. Dessa forma, o varejista se beneficiaria ao estar apto a concorrer
com empresas de outras localidades, o que estimularia a competição,
proporcionando bens cada vez mais diversos e baratos aos consumidores",
destacou Edlayne.
Brasil no projeto
O Banco Central
brasileiro tem o projeto do Pix Internacional que está na fase de estudo de
modelos. Carlos Eduardo Brandt, chefe adjunto do Departamento de Competição e de
Estrutura do Mercado Financeiro da entidade, destaca duas alternativas para seu
desenvolvimento: a primeira seria com acordos bilaterais entre países e a
segunda, com os arranjos multilaterais, como é o caso do Nexus.
"Há claramente um esforço internacional de melhorar os pagamentos
transfronteiriços, porque hoje existe um processo de pagamento internacional
que geralmente é custoso, tem algumas questões em termos de rastreabilidade, de
onde o pagamento está e quando vai chegar. Não são pagamentos intuitivos,
fáceis, rápidos", avaliou Brandt.
O trabalho para facilitar esse tipo de pagamento está sendo feito já há
alguns anos pelo BC. A aprovação de um novo Marco Legal do Câmbio, no ano
passado, que simplificou as regras em vigor, é parte desse esforço, ressalta
Sergio Biagini, sócio líder da Indústria de Serviços Financeiros da Deloitte:
"Esse arcabouço é que vai gerar essa transformação do mercado, vai
possibilitar o ambiente de transformação. E, quando falamos do Pix, ele é um
meio tecnológico para ser um dos instrumentos possíveis de conexão para
transferência internacional. Existe essa correlação direta entre os
instrumentos."
A estrutura se baseia em dois pontos. O primeiro é a criação de um
software chamado Nexus Gateway, ou Portal Nexus, que vai servir como um
conector central para que sistemas de pagamentos instantâneos de todo o mundo
possam ser "acoplados" e trocar informações entre si.
O segundo ponto é o Nexus Scheme, ou Esquema Nexus, que vai estabelecer
regras básicas para permitir a comunicação entre os sistemas de diversos países
sem muitas adaptações.
"Conectar sistemas de pagamentos instantâneos bilateralmente faz sentido
quando dois países têm relações próximas e um fluxo significativo de
pagamentos. No entanto, uma abordagem mais escalável é necessária para criar
uma verdadeira rede global de pagamentos transfronteiriços", aponta o BIS em
relatório.
Impacto na inflação Edlayne Burr, da Accenture, destaca que o
desenvolvimento de ferramentas tão complexas tem muitas barreiras que precisam
ser consideradas. Ela aponta, por exemplo, as dificuldades tecnológicas, já que
haverá necessidade de servidores com "ampla disponibilidade em escala global" e
múltiplos sistemas envolvidos nas transações em diferentes moedas.
Além disso, há também fatores políticos, caso um país não queira estar
conectado diretamente com outro, por exemplo; e econômicos, como a definição do
valor de cada moeda.
"Caso o sistema de pagamentos unificado transforme uma moeda em outra
instantaneamente, algo que não ocorre atualmente, podem existir complexidades
adicionais no controle da inflação, por exemplo", comentou Edlayne.
Fonte: IG ECONOMIA / O
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