Operação identificou alojamento precário e falsas
promessas de trabalho na colheita da uva
O
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Secretaria de Inspeção do
Trabalho, resgatou, nesta sexta-feira (07/02/2025), 18 trabalhadores indígenas
em condições análogas à escravidão em Bento Gonçalves (RS). A operação,
coordenada por auditores-fiscais do Trabalho, identificou que os trabalhadores,
em sua maioria da reserva indígena Kaingang, de Benjamin Constant do Sul (RS),
haviam sido contratados por uma empresa terceirizada para a colheita da uva. A
ação contou com o apoio da Secretaria de Assistência Social, da Guarda
Municipal de Bento Gonçalves e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
No dia 5 de fevereiro de 2025,
um grupo de dez trabalhadores indígenas procurou a Assistência Social de Bento
Gonçalves em busca de acolhimento. Diante da situação, o órgão acionou
imediatamente a fiscalização do Trabalho. Os trabalhadores haviam sido dispensados
e despejados do alojamento sem receber os pagamentos devidos pelo período em
que ficaram à disposição do empregador. Na mesma data, durante inspeção no
local onde estavam alojados, na área urbana da cidade, os auditores-fiscais
identificaram outros oito trabalhadores em condições inadequadas de trabalho
e alojamento precário.
A inspeção identificou 18
trabalhadores, sendo 12 homens e seis mulheres, com idades entre 17 e 67 anos, alguns
deles não alfabetizados, vivendo em condições precárias. O grupo estava alojado
em um galpão de madeira com canchas de bocha pertencente a uma associação, sem
piso adequado, paredes seguras ou cobertura em boas condições. Não havia
dormitórios nem camas, e os trabalhadores dormiam em colchões espalhados pelo
chão, atrás do bar, em áreas improvisadas e até dentro das canchas de bocha.
Entre os alojados, havia um
bebê e uma criança de cinco anos, filhos de trabalhadores. Segundo relatos dos
próprios trabalhadores, o alojamento chegou a abrigar cerca de 40 pessoas. O
local, alugado de forma irregular pela empresa prestadora de serviços, foi
interditado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico em 6 de
fevereiro de 2025.
Os trabalhadores chegaram ao
local em 7 de janeiro de 2025, com a promessa de início imediato na colheita da
uva, carteira assinada e pagamento de diárias de R$ 150, além de alimentação e
moradia. Apesar de terem realizado o exame médico admissional, o registro nunca
foi efetivado. As diárias começaram a ser pagas apenas em 20 de janeiro de
2025, deixando os trabalhadores sem remuneração nas primeiras semanas.
Além disso, a empresa
prestadora de serviços recrutou mais trabalhadores do que o necessário para as
propriedades rurais atendidas, resultando em períodos sem trabalho e,
consequentemente, sem pagamento para parte do grupo.
Relatos da equipe de
fiscalização apontam que os trabalhadores foram contratados e levados a Bento
Gonçalves antes do início da safra das propriedades rurais atendidas, com o
intuito de impedir que buscassem trabalho na colheita da maçã. Com a promessa
de emprego durante toda a safra da uva, eles acabaram enganados e dispensados
após quase um mês à disposição do empregador, tendo trabalhado apenas em
algumas diárias.
Um dos produtores rurais que
contratou a empresa terceirizada afirmou ter sido pressionado a empregar os
trabalhadores antes do período ideal, o que o levou a colher a uva ainda verde,
resultando em prejuízo. Segundo ele, a prestadora de serviços garantiu que
todos estavam devidamente registrados, o que parecia coerente, já que os
próprios trabalhadores confirmaram ter feito os exames médicos admissionais. No
entanto, a irregularidade só foi descoberta quando foram dispensados. O produtor,
que fornecia café da manhã, almoço e transporte diário, declarou que seus
pagamentos à empresa estavam em dia.
Os auditores-fiscais também
identificaram outra irregularidade: a venda, dentro do alojamento, de itens que
deveriam ser fornecidos gratuitamente aos trabalhadores, como papel higiênico,
e ainda por preços superiores aos do mercado.
Providências adotadas
A Auditoria-Fiscal do Trabalho
classificou a situação como trabalho em condições análogas à escravidão,
considerando a contratação de trabalhadores em situação de vulnerabilidade sob
falsas promessas, a informalidade e as condições degradantes de alojamento. A
empresa prestadora de serviços foi notificada a quitar os valores devidos e
custear o retorno dos trabalhadores às suas cidades de origem. Na noite de 6 de
fevereiro de 2025, dez trabalhadores voltaram para casa com parte dos
pagamentos e passagens custeadas pelos contratantes, que seguem obrigados a
efetuar o pagamento integral dos créditos trabalhistas aos 18 trabalhadores ao
longo da próxima semana.
Além disso, o MTE emitirá o
Seguro-Desemprego Especial aos trabalhadores resgatados, garantindo-lhes três
parcelas de um salário-mínimo. A operação contou com o apoio da Secretaria de
Assistência Social, da Guarda Municipal de Bento Gonçalves e da Polícia
Rodoviária Federal (PRF).
Combate ao trabalho análogo à escravidão
Este é o terceiro resgate
realizado na safra da uva em 2025. No dia 28 de janeiro, Dia Nacional de
Combate ao Trabalho Escravo, quatro trabalhadores argentinos foram resgatados
em São Marcos (RS). Já em 2 de fevereiro, outros nove trabalhadores, também
argentinos, foram encontrados em condições análogas à escravidão em Flores da
Cunha (RS).
Denúncias
Casos de trabalho análogo à escravidão podem ser denunciados anonimamente
ao Ministério do Trabalho e Emprego pelo Sistema
Ipê. Os dados oficiais das ações de fiscalização estão disponíveis
no Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no
Brasil.
Fonte:
Ministério do Trabalho e Emprego, com edição do texto pela M&M
Assessoria Contábil