Três em cada dez brasileiros sofrem com esse distúrbio
que compromete pessoas e empresas
No filme Tempos
Modernos, de 1936, Charlie Chaplin encarna um operário de uma fábrica. As cenas
clássicas dessa obra mostram a repetição do trabalho, a cobrança do chefe e a
frustração do funcionário por não conseguir realizar todas as tarefas. Tudo
isso é retratado com o humor característico do genial cineasta.
Na época em que o
longa foi filmado, os teóricos ainda não tinham uma definição para o distúrbio
que o personagem enfrentava.
Somente na década de
1970, o médico alemão Herbert Freudenberger utilizou pela primeira vez o termo
Síndrome de Burnout para classificar o esgotamento mental e emocional
relacionado à vida profissional. Em inglês, o termo significa esgotar ou
queimar totalmente até desaparecer.
O distúrbio, no
entanto, é mais antigo que a data de sua classificação. Especialistas apontam
esse mal como uma das consequências da aceleração do tempo na modernidade e das
mudanças nas relações de trabalho após a revolução industrial.
Na pele
Os sintomas do
esgotamento se manifestam de diversas formas: cansaço constante, irritabilidade,
ansiedade, dificuldade de realizar as tarefas do trabalho e isolamento.
A maioria dos
especialistas enfatiza a predominância de sintomas mentais, mas geralmente é
somado a manifestações psicossomáticas, como insônia, úlceras, dores de cabeça
e hipertensão.
De acordo com doutor
Mário Louzã, médico e professor da USP, a síndrome é desencadeada, geralmente,
por uma situação de estresse intenso no ambiente de trabalho: metas
difíceis de alcançar, excesso de tarefas e de cobrança e uma jornada intensa de
trabalho sem o descanso necessário.
O esgotamento não se
manifesta do dia para a noite. É um processo cumulativo que pode demorar
anos ou décadas para se desenvolver completamente.
Estudos apontam uma
maior incidência da síndrome em algumas profissões, como professores,
policiais, enfermeiros e médicos. "São pessoas que têm de lidar com turnos
seguidos e muitas responsabilidades", afirma Louzã.
Mas nenhum
profissional está a salvo. Foi o caso de Helloá Regina, servidora pública, que
repentinamente começou a sentir uma série de sintomas, como dor de cabeça, azia
e dificuldade para dormir.
Nessa época, ela não
associava essas ocorrências ao trabalho. "Os sinais foram aparecendo aos
poucos. Achava que era algo passageiro e ignorei", afirma Helloá. A situação
foi piorando, até que se tornou insustentável.
Quando ela percebeu
que a rotina desgastante do trabalho estava afetando sua saúde, Helloá tentou
conversar com sua chefe.
"Ela me aconselhou
mudar de profissão, apesar de elogiar meus conhecimentos, disse que eu era
fraca e não aguentava o tranco", afirma.
A situação se
agravou. Muitos colegas de trabalho também estavam sofrendo, mas tinham medo de
serem penalizados caso reclamassem da pressão que sofriam.
Helloá decidiu
procurar ajuda no setor de Saúde do Trabalhador. Foi encaminhada para diversos
médicos até ser diagnosticada com Síndrome de Burnout.
"O tratamento
consiste em descanso. Outro ponto fundamental é tirar a pessoa do ambiente
nocivo", diz Louzã.
Foi o que a
funcionária pública fez. Ela permaneceu afastada do trabalho, foi submetida a
um tratamento psicoterapêutico e, quando retomou as atividades, decidiu mudar
de setor.
Hoje, ela descreve
sua rotina como tranquila e garante que tem um bom ambiente de trabalho. "A
síndrome permitiu meu crescimento e amadurecimento", afirma Helloá.
Além de suas
atividades profissionais, ela estuda a síndrome e se dedica a informar e
auxiliar pessoas que estão passando por situação similar à que ela viveu. Ela
criou a página "Vencendo o Burnout" nas redes sociais, que funciona
como um grupo de apoio e espaço de discussão sobre o tema.
Crise e saúde mental
De acordo com uma
estimativa do International Stress Management Association no Brasil (ISMA -
BR), três em cada dez brasileiros sofrem com a síndrome de Burnout.
Os números podem
piorar com o agravamento de crises econômicas. Equipes reduzidas - por causa de
corte de custos - geram trabalho extra para diversos funcionários que começam a
se sentir sobrecarregados.
Além disso, algumas
empresas estipulam metas que não condizem com a situação econômica do país e
muitos trabalhadores convivem com o risco iminente de perder o emprego.
Esse cenário é
propício para que doenças como depressão, ansiedade e Síndrome de Burnout se
alastrem entre a população economicamente ativa.
De acordo com dados
do Ministério do Trabalho, os distúrbios mentais estão na terceira posição dos
males que mais afetam trabalhadores, perdendo apenas para os traumas e
lesões musculares.
De acordo com o Dr.
Mário Louzã, é fundamental que os empresários e as pessoas em cargos de
liderança entendam o perfil de seus funcionários. "Há pessoas que gostam de
sobrecarga no trabalho e outras que toleram menos. Cabe aos chefes saberem
equacionar", diz.
Helloá acredita que
é preciso rever modelos antigos de liderança. "Ser chefe não é só mandar, é
preciso saber influenciar positivamente as pessoas", afirma.
Fonte:https://dcomercio.com.br/publicacao/s/burnout-a-sindrome-do-esgotamento-profissional?utm_campaign=press_clipping_fenacon_-_07_de_marco_de_2025&utm_medium=email&utm_source=RD+Station