Atualmente, setor já está inserido em uma
série de tributos ao longo de sua cadeia produtiva
A reforma tributária
em discussão no Brasil promete transformar a maneira como os tributos sobre
combustíveis são cobrados e pagos no País. Embora simplificação e eficiência
sejam palavras de ordem, as mudanças terão impactos diretos na economia, nos
custos de transporte e no bolso de milhões de brasileiros. Mas, afinal, o que
tudo isso significa?
Atualmente,
os combustíveis estão sujeitos a uma série de tributos ao longo de sua cadeia
produtiva, o que muitas vezes resulta em preços mais altos para o consumidor
final. A nova proposta visa simplificar esse processo com a chamada tributação
monofásica. Isso significa que o imposto será cobrado apenas em um ponto da
cadeia produtiva, geralmente no produtor ou importador, antes de chegar aos
postos. Na prática, isso pode reduzir custos administrativos e aumentar a
transparência nos preços. No entanto, a forma como as alíquotas serão
calibradas terá grande influência sobre os preços finais. Por exemplo, enquanto
o etanol continuará com vantagens tributárias para estimular seu consumo como
alternativa mais sustentável, combustíveis fósseis como gasolina e diesel podem
enfrentar tributação mais pesada, especialmente devido à introdução do novo
Imposto Seletivo.
O
Imposto Seletivo é uma novidade da reforma tributária e incidirá sobre produtos
que prejudicam a saúde ou o meio ambiente. A ideia é desestimular o consumo
desses produtos e promover alternativas mais sustentáveis. Contudo, se mal
regulamentado, esse imposto pode encarecer o transporte e gerar um efeito cascata
nos preços de bens de consumo, como alimentos e itens essenciais. No Brasil,
onde a maior parte da carga é transportada por caminhões movidos a diesel,
qualquer tropeço do legislador tem o potencial de impactar toda a economia. Por
isso, é essencial que equilibrar a necessidade entre maior sustentabilidade
ambiental e proteção do poder de compra das famílias.
Um
desafio adicional será alinhar a nova tributação ao mercado de carbono. Esse
mercado já permite que empresas compensem suas emissões de gases de efeito
estufa comprando créditos de carbono, incentivando práticas mais sustentáveis.
No entanto a lei que regula este mercado proíbe que tributação e regulação se
sobreponham quando se trata de emissões de gases efeito estufa. Isso significa
que, ao implementar o Imposto Seletivo, o governo precisará garantir que ele
complemente e não substitua ou conflite com o mercado de carbono. Esse
equilíbrio será crucial para garantir que as metas ambientais do País sejam
atingidas sem criar novas distorções econômicas.
Além
de questões ambientais, o impacto direto no bolso dos consumidores não pode ser
ignorado. O transporte rodoviário é a espinha dorsal da distribuição de
mercadorias no Brasil. Um aumento nos preços do diesel, por exemplo, pode levar
à alta de diversos produtos, pressionando ainda mais a inflação, juros e dólar.
Por outro lado, a simplificação da cobrança de tributos pode evitar distorções
e tornar os preços mais previsíveis, beneficiando os consumidores no longo
prazo. O sucesso da reforma dependerá da calibragem precisa das alíquotas e da
transparência na aplicação dos recursos arrecadados.
A
reforma tributária representa uma oportunidade única para modernizar o sistema
fiscal brasileiro e torná-lo mais justo e eficiente. No entanto, o desafio será
enorme: equilibrar a arrecadação necessária para sustentar os serviços públicos
com a promoção de uma economia mais sustentável e competitiva. Se bem
implementada, a reforma pode reduzir desigualdades, incentivar práticas
ambientais responsáveis e aumentar a competitividade do Brasil. Porém, o
governo precisará atuar com precisão cirúrgica para evitar que os custos
recaiam desproporcionalmente sobre as famílias ou comprometam a economia em um
momento de recuperação.
Saiba
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Autor:
José Andrés Lopes da Costa. Advogado e mestre em Direito Tributário Internacional
e Desenvolvimento pelo IBDT-SP.